Professor da Unicamp analisa os benefícios gerados pelo Programa PIPE da FAPESP

05 de setembro de 2017

A Agência Inova Unicamp publicou em 31 de agosto entrevista com Sérgio Salles-Filho, do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sobre os benefícios do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) em termos de geração de novos produtos, processos e serviços. O Programa PIPE está completando neste ano 20 anos de criação. Na entrevista, Salles-Filho pontuou as principais contribuições do PIPE para pequenas empresas que buscam levar inovações tecnológicas ao mercado e quais perspectivas podem ser esperadas para o futuro do Programa. Leia a íntegra da entrevista.

Quais os impactos gerados pelo Programa PIPE nesses 20 anos?

Sérgio Salles-Filho – O principal impacto de um programa como esse é desenvolver um novo conhecimento, por meio da pesquisa, que se transformará em bens e serviços que a sociedade poderá usufruir. Na avaliação que fizemos há algum tempo e que estamos realizando uma segunda rodada, isso foi medido. O impacto foi muito positivo. Várias das empresas analisadas – em torno de 250, na época – chegaram a ter produtos e serviços no mercado, exportar e colocar a tecnologia a serviço da sociedade, gerando empregos e faturamento, trazendo desenvolvimento local e aproximando a pesquisa da universidade da sociedade. É um investimento que vale a pena. O impacto é positivo do ponto de vista econômico e do ponto de vista social. Nós entendemos e mensuramos que é um dinheiro bem gasto, pois o retorno para a sociedade é positivo.

Qual a principal área beneficiada pelo programa?

Sérgio Salles-Filho – Há uma grande diversidade de setores e áreas do conhecimento no PIPE, como biotecnologia, optoeletrônica e aeronáutica. O setor de TIC é dos mais importantes porque nessa área é possível desenvolver projetos mais próximos do mercado. Tecnologias de outras áreas, em geral, levam um tempo maior para chegar ao mercado.

Em comparação com programas semelhantes existentes no exterior, como podemos avaliar a atuação do programa?

Sérgio Salles-Filho – O programa norte-americano SBIR (Small Business Innovation Research), no qual o PIPE se inspirou, tem números bem semelhantes. O SBIR é um programa muito maior. São mais de US$ 3 bilhões de investimentos e o PIPE tem se mostrado talvez tão eficiente quanto o americano, sob vários indicadores. Os indicadores que aparecem diferentes são justamente naqueles temas em que o Brasil ainda precisa evoluir, como capital de risco e licenciamentos de tecnologia, por exemplo. A oferta de capital de risco é muito maior e mais dinâmica lá do que aqui. Além de ter mais investimentos em programas como o PIPE, nós precisamos ter uma estrutura de acolhimento daquilo que, na literatura, é chamado de vale da morte e garantir que, depois que se desenvolveu a tecnologia, ela realmente vire um produto ou serviço ou um processo. O PIPE, no Brasil, acaba também ajudando a criar esse ambiente, porque são desenvolvidas tecnologias por meio desses projetos que são interessantes do ponto de vista de mercado, atraindo investidores interessados no negócio. Entretanto, outros instrumentos são necessários para complementar o que o PIPE faz. A fase 3, juntamente com a Finep, é uma tentativa nesse sentido.

De acordo com os estudos realizados anteriormente, 60% dos projetos avaliados geraram alguma inovação. Por que esse dado é positivo? E qual o conceito de inovação nesses casos?

Sérgio Salles-Filho – É um dado positivo porque se você for comparar com outros programas voltados para investimentos em empresas de base tecnológica, as taxas são bem menores. Os 60%, na verdade, são um número alto e são sinal de que a seleção inicial de propostas foi bem feita. Agora é preciso entender que uma parte pequena dessa porcentagem é a que realmente consegue um resultado extraordinário e que acaba impulsionando os indicadores de todo o programa. Esse mesmo fenômeno acontece em outros programas. Em torno de 10% das empresas são aquelas que realmente decolam com o auxílio do PIPE. Considera-se como uma inovação produtos, serviços ou processos que chegam ao mercado ou que são utilizados pela sociedade. No caso das empresas do PIPE, o objetivo final é colocar produtos ou processos no mercado. Entretanto, o PIPE não tem como foco a comercialização de produtos, mas sim a pesquisa que antecede o desenvolvimento de novas tecnologias.

Podemos afirmar que, de certo modo, o PIPE auxilia na transformação de pesquisadores em empreendedores?

Sérgio Salles-Filho – Acredito que sim, auxilia, embora não tenha requerimentos nesse sentido, inclusive porque em alguns casos o pesquisador não é o empreendedor que está na empresa. É preciso apoiar pesquisadores que já tenham alguma ideia viável ou inovadora e que tenham uma propensão, tendência ou interesse em empreender. O PIPE cumpre essa função. Ele tira o pesquisador do ambiente exclusivo de pesquisa e faz com que ele faça pesquisa em um ambiente que olha para o mercado, para a sociedade, estimulando o empreendedorismo e indo além de outros tipos de auxílios da FAPESP. No caso do PIPE, é a pesquisa na empresa que interessa, estimulando o crescimento de pequenas empresas por meio da inovação.

Portanto, o PIPE influencia na criação de um ecossistema de inovação e empreendedorismo regional mais robusto?

Sérgio Salles-Filho – Sem dúvida, uma vez que o programa é o principal instrumento de financiamento para desenvolvimento tecnológico em pequenas empresas. Inclusive, ele é complementar ao PAPPE da Finep. As fases 1 e 2 do PIPE atuam mais na parte da pesquisa, do modelo de negócio, etc. A Fase 3 já tem mais essa visão de mercado, que é feita junto com a Finep, no programa PAPPE. Embora a gente não tenha medido exatamente isso, fica claro que os projetos que foram mais bem-sucedidos são aqueles em que houve a cooperação com centros de pesquisa.