Pesquisadores da Unicamp desenvolvem aditivo para tintas que inativa o SARS-CoV-2
15 de fevereiro de 2022*Um aditivo antiviral e antibacteriano à base de micropartículas de cobre (pó de cobre), desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), inativou em 99,99% o SARS-CoV-2. O resultado foi observado a partir de duas horas de exposição do microrganismo por contato na superfície recoberta com a pintura aditivada. O aditivo virucida pode ser misturado a tintas comuns de parede e incorporado na fabricação de objetos metálicos e plásticos, como maçanetas, barras de apoio de veículos de transporte público e botões de elevadores.
A composição, desenvolvida por pesquisadores da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) e da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), foi caracterizada em testes conduzidos no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. O invento teve o pedido de patente depositado pela Agência de Inovação Inova Unicamp e já pode ser licenciado para usos na indústria enquanto o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) analisa a documentação.
“Utilizamos micropartículas de 20 a 60 micrômetros. O tamanho facilita a incorporação nos produtos, pois não há necessidade de outros equipamentos industriais. Elas não afetam as propriedades físicas, como cor e textura, e, além disso, a tecnologia é mais segura na comparação com o uso de nanopartículas de cobre, mais difíceis de dispersar e incorporar”, diz a professora e pesquisadora da Unicamp Laís Gabriel.
Menor que um grão de areia
O processo de produção do pó de cobre tem rotas simples, que não alteram processos já conduzidos pela indústria, explica o engenheiro Éder Lopes, professor da FEM-Unicamp.
O pó metálico apresenta partículas dez vezes menores que as de um grão de areia. Além do formato, a natureza e o tamanho do cobre são controlados para alcançar o efeito antiviral.
“Percebemos que o óxido de cobre é melhor do que o cobre na forma pura, pois tem um formato menos homogêneo de partículas, o que favorece a desativação dos vírus. A rota de produção e a aplicação também têm fácil capilaridade comercial, pois dispensam preparação prévia ou mudança no processo de diluição da tinta que os pintores já realizam”, explica.
As micropartículas de cobre podem ser obtidas por moagem tradicional, com jatos de gás e de água (atomização), ou por processo eletroquímico (eletrodeposição). Nos testes, o cobre moído foi adicionado à tinta branca à base de água, sem a necessidade de misturadores ou equipamentos especiais, e não alterou a aparência original do produto. A tecnologia também permite o uso de cobre reciclado, reduzindo os custos de produção.
Outra vantagem é que o aditivo apresenta uma concentração baixa de óxido de cobre, entre 5% e 15%, o que torna a tecnologia mais competitiva. “Em todas as concentrações testadas obtivemos resultados iguais na inativação do coronavírus, o que nos leva a pensar que uma diminuição desse percentual, importante para o custo final de um produto, também não alteraria o efeito”, avalia Lopes.
Funcionamento da tecnologia
As partículas de óxido de cobre funcionam como um desinfetante natural. As tintas e superfícies enriquecidas com o aditivo desencadeiam um processo que destrói a capa protetora do vírus. Assim, quando uma pessoa espirra ou tosse próximo a uma parede ou corrimão, por exemplo, e o coronavírus se deposita nessa superfície aditivada, ele interage com as partículas de cobre e é destruído.
A solução tecnológica foi pensada para hospitais e locais com grande circulação de pessoas, como terminais de passageiros, escolas e áreas comuns em condomínios. Outra possibilidade é a incorporação em embalagens, para reduzir o risco de contágio em superfícies contaminadas, explica a professora do Instituto de Biologia Clarice Arns, que coordenou os testes com vírus e de toxicidade.
“O cobre é um metal bastante estável, mais barato do que a prata e reconhecido por sua atividade antiviral e bactericida. Nos testes in vitro, o óxido de cobre testado não foi tóxico às linhagens de células, que são extremamente sensíveis. O aditivo apresenta, assim, amplo potencial de aplicação, como em embalagens plásticas para alimentos”, aponta a virologista.
Os estudos conduzidos por Arns se limitaram a avaliar o efeito do cobre por um tempo máximo de 24 horas, o que não significa que o efeito termine após esse período. Ao contrário, os resultados preliminares indicam permanência e constância. “Quanto mais o tempo passou, maior foi o poder virucida do aditivo. A partir de duas horas de contato houve a estabilização e o efeito de inativação se manteve igual ao longo das 24 horas”, afirma a pesquisadora.
O aditivo pode ser um aliado no combate às infecções virais e bacterianas por contato em superfícies contaminadas, mas não elimina outras medidas sanitárias, como o uso de máscaras e a lavagem das mãos, uma vez que não é efetivo no controle da transmissão aérea de doenças e por contato entre as pessoas.
*Com informações da Assessoria de Comunicação da Inova Unicamp.
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