Empresas nascidas da Unicamp abrem capital na bolsa de valores

30 de agosto de 2022

* A abertura de capital na bolsa de valores é um grande passo na trajetória de uma empresa e costuma ser acompanhada de uma grande cerimônia. Acostumadas às apresentações para impressionar clientes e parceiros, as companhias precisam contar suas histórias para conquistar a confiança de uma parcela mais ampla do mercado. O objetivo é convencer centenas e até milhares de outras pessoas a se tornarem sócias do negócio, adicionando novas fontes de financiamento.

Em 2021, ao menos três companhias nascidas nos corredores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e estruturadas a partir de tecnologia ou do trabalho de ex-alunos da universidade realizaram oferta pública inicial de ações (conhecida como IPO na sigla em inglês) no Brasil e nos Estados Unidos. Outras empresas do ecossistema também já sinalizaram interesse para este ano. São companhias voltadas para tecnologia, como produção de softwares, serviços digitais e telecomunicações.

“A pandemia acelerou as empresas de tecnologia e a decisão de abrir o capital é, sem dúvida, uma das mais complexas para uma companhia. Demonstra maturidade do ecossistema da Unicamp, que possui empresas com perfis bem distintos, entre elas, aquelas que optam pela capitalização”, disse David Figueira, presidente do grupo Unicamp Ventures, rede de relacionamento e colaboração formada por empreendedores ligados à Unicamp.

Segundo ele, mais do que alterar a forma como a companhia é vista pelo mercado e pela sociedade, o IPO demanda uma transformação de ordem cultural que impacta todo o ecossistema. “Estar na Bolsa é um jeito de captar recursos e requer um check list maior. As empresas precisam apresentar melhorias nos processos internos, maior governança e transparência, e isso favorece todo o ecossistema, pois essas companhias costumam manter fortes vínculos com a região e outras empresas-filhas da Unicamp, que passam a se inspirar no exemplo.”

A PadTec, maior fabricante de transporte óptico da América Latina, estreou na B3 em maio do ano passado no segmento Novo Mercado, destinado a companhias que adotam um padrão de governança corporativa diferenciado no Brasil. Em comunicado na época, a empresa instalada no Polo de Alta Tecnologia de Campinas, que tem em suas bases diversas patentes desenvolvidas em conjunto com a Unicamp, afirmou que a decisão de abrir o capital seguiu um caminho natural dentro da empresa. Em 2007, a FAPESP firmou um acordo com a PadTec no âmbito do programa Parceria para Inovação Tecnológica (PITE).

“O ingresso da Padtec no Novo Mercado é reflexo dos constantes esforços da empresa no sentido de aprimorar processos, práticas e políticas. A governança corporativa, que vem sendo construída ao longo dos anos, preparou a companhia para novos ciclos de investimento e crescimento, com bases mais sólidas de transparência e responsabilidade”, destacou Carlos Raimar, CEO da empresa.

O ingresso na B3 veio no mesmo ano em que a empresa completou duas décadas de atuação e foi motivado, também, pelo interesse da companhia em entrar no mercado de comunicações móveis 5G. A Padtec já fornece a tecnologia que provavelmente faz esse texto circular pela internet. A empresa investe, em média, 13% de sua receita anual em pesquisa e desenvolvimento e fechou 2021 com receita operacional bruta de R$ 448 milhões, o melhor resultado histórico.

Em junho do ano passado, a ClearSale, empresa-filha da Unicamp especializada em proteção antifraude, fez o mesmo movimento. A companhia fundada também em 2001, por Pedro Chiamulera, formado em ciências da computação e que tem como sócio desde os primeiros anos Bernardo Lustosa, que cursou estatística na Unicamp, buscava investimento para acelerar o negócio. “A pandemia acelerou a digitalização da sociedade, expandindo nosso mercado endereçável e aumentando a demanda por serviços antifraude e, para não perdermos o time-to-market, o IPO se mostrou uma boa opção”, disse Lustosa, CEO da ClearSale.

Os R$ 1,1 bilhão captados em três ofertas foram destinados para o crescimento orgânico, open innovation e aquisições. “Além de trazer o capital para viabilizar e acelerar o crescimento, o IPO é uma vitrine para a captura de talentos e clientes ao dar maior exposição à marca, fortalecer a governança corporativa e o posicionamento como empresa neutra e sem exclusividade”, comentou o estatístico formado pela Unicamp.

A primeira transação depois do IPO veio no início deste ano, com a aquisição da Beta Learning, empresa focada em desenvolvimento de software em diversos segmentos, além de expertise em treinamento corporativo. No mesmo mês, saiu o anúncio da aquisição da ChargebackOps, norte-americana especializada em mecanismo de recuperação de fraudes de cartões de crédito ou débito, dessa vez, com os olhos voltados para a expansão internacional.

“Progredimos na estabilidade e experiência do usuário da nossa plataforma, permitindo a maior Black Friday com 100% de estabilidade e dobramos o número de funcionários na área de open innovation. Essas foram algumas das entregas feitas no período que têm colaborado para uma ClearSale mais robusta, madura e preparada para o crescimento sustentável de longo prazo”, disse.

Outra grande empresa parceira do ecossistema da Unicamp a anunciar a abertura de capital foi a CI&T, cujas ações foram negociadas na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE). Um dos pilares da estratégia de crescimento da multinacional, fundada nos corredores da Unicamp, está na aquisição de novas empresas, buscando selecionar candidatas que fortaleçam a proposta agressiva, inovadora e ágil da companhia. “A exposição da companhia a moedas fortes é fundamental para o negócio”, disse Cesar Gon, CEO e fundador da empresa, formado em engenharia da computação e mestre em ciência da computação pela Unicamp.

Desde 2017, foram duas aquisições – da Comrade, uma agência digital da Califórnia (EUA), e da Dextra, empresa especializada no desenvolvimento de software e criação de produtos digitais. Além da parceria estratégica com a Advent International, um dos maiores e mais experientes investidores globais em private equity (do inglês patrimônio privado), que ajudou na expansão internacional, com injeção de capital e na preparação do processo de abertura.

Com o IPO, a CI&T movimentou US$ 225 milhões ao vender 15 milhões de ações, das quais 3,9 milhões dos atuais acionistas, o que possibilitou três aquisições em nove meses: da britânica Somo, para acelerar o crescimento no território europeu; da brasileira Box 1824, consultoria estratégica com foco no futuro sediada em São Paulo, para acelerar as estratégias globais; e, recentemente, da Transpire, uma consultoria de tecnologia australiana. “A decisão de abrir capital sempre esteve muito bem alinhada com o plano de crescimento de aquisições da CI&T.” Como resultado, a empresa registrou a maior taxa de crescimento orgânico nas operações dos EUA e fechou 2021 com receita líquida de R$ 1,4 bilhão.

A empresa já foi apoiada pelo programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP.

* Com informações da Assessoria de Comunicação da Agência Inova Unicamp.