Entre as startups apoiadas pelo PIPE cresce o interesse em desenvolver projetos relacionados à automação e inteligência artificial, fotônica, robótica, entre outros

Brasil precisa de um projeto de reindustrialização com ênfase em indústria 4.0

12 de dezembro de 2017

Elton Alisson | Agência FAPESP – O Brasil precisa implementar urgentemente um projeto de reindustrialização com ênfase em indústria 4.0, como é definida a integração na indústria de transformação de tecnologias de Big Data, inteligência artificial e Internet das Coisas, entre outras, com o objetivo de aumentar o nível de automação e possibilitar novas formas de organização dos sistemas de produção.

A avaliação foi feita por participantes do 1º Congresso Brasileiro de Indústria 4.0, realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) em parceria com o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de São Paulo (Senai-SP) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) em 5 de dezembro, em São Paulo.

O evento reuniu representantes de empresas e de agências de fomento à pesquisa, desenvolvimento e inovação, com o objetivo de discutir como o Brasil pode construir vantagens competitivas no contexto da indústria 4.0.

De acordo com dados apresentados por José Ricardo Roriz Coelho, vice-presidente da Fiesp e diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia da instituição, o Brasil enfrenta um forte processo de desindustrialização, como é definida a redução da capacidade industrial de um país.

A participação da indústria brasileira na indústria mundial caiu praticamente pela metade nos últimos 20 anos, de 3,47% em 1995 para 1,84% em 2016. Já a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro este ano foi de 11,1%, atingindo o mesmo patamar de 1953, comparou Roriz.

“A participação da indústria no PIB brasileiro regrediu 65 anos. E, por conta disso, a produtividade brasileira estagnou”, explicou o especialista.

A industrialização, afirmou Roriz Coelho, foi o motor do aumento da produtividade brasileira durante um longo período, o que permitiu ao país reduzir o hiato em relação aos Estados Unidos nesse quesito.

Em 1980, quando a participação da indústria no PIB brasileiro atingiu o patamar de 20,2%, a produtividade brasileira em comparação com a dos Estados Unidos chegou a 40,3%. Em 2015, porém, caiu para 24,9% – mesmo índice de 1950.

“Com a queda da participação da indústria no PIB brasileiro, a produtividade do país em comparação com a dos Estados Unidos também regrediu quase 65 anos. Isso representa um grande motivo de preocupação”, afirmou.

Enquanto o país vem passando por um aprofundamento muito grande do processo de desindustrialização, economias de alta e média intensidade tecnológica, como Estados Unidos, Alemanha, Japão e China, têm feito grandes investimentos para acelerar a migração para a indústria 4.0, comparou Roriz.

Uma pesquisa realizada em 2016 pela consultoria PWC com 2 mil empresas em 26 países apontou que elas investirão em indústria 4.0 o equivalente a US$ 907 bilhões por ano até 2020 – cerca de 5% de suas receitas. Com isso, essas empresas esperam obter uma redução de US$ 421 bilhões em seus custos de operação e obter ganhos de receita equivalente a US$ 493 bilhões por ano.

A Europa, por exemplo, planeja investir cerca de € 1,35 trilhão ao longo dos próximos 15 anos em indústria 4.0. Deste total, € 250 bilhões deverão ser aportados por empresas alemãs.

Por sua vez, a China planeja investir € 1,8 trilhão nos próximos anos para modernizar sua indústria.

“Para poder competir com esses países, o Brasil precisa urgentemente de um projeto de reindustrialização com ênfase em indústria 4.0”, avaliou Roriz.

Vantagem competitiva

O Brasil possui alguns pontos fortes que podem contribuir para dar resposta aos desafios trazidos pela nova realidade da indústria 4.0, avaliaram os participantes do evento. Entre eles, o de ter um parque produtivo bastante diversificado, com unidades fabris de empresas líderes das principais economias desenvolvidas.

O país, contudo, terá que superar alguns obstáculos, como o de melhorar sua infraestrutura tecnológica, criar linhas de financiamento apropriadas e desenvolver competências e capacitações em tecnologias cruciais para implementação da indústria 4.0, como robótica avançada, manufatura aditiva (construção de objetos por impressão 3D), realidade aumentada e materiais funcionais, apontaram os participantes do evento.

Algumas dessas tecnologias já têm sido exploradas por pequenas empresas nascentes de base tecnológica (startups), além de universidades e instituições de pesquisa em São Paulo, destacou Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP.

“Há uma base mínima de competências instalada em universidades e em empresas relacionadas à manufatura avançada e Internet das Coisas, por exemplo. A gente não parte do zero nessa corrida”, avaliou.

O Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) tem apoiado um expressivo número de pequenas empresas nascentes de base tecnológica com projetos em áreas relacionadas à manufatura avançada.

Entre as mais de 200 empresas apoiadas anualmente pelo programa, 45 delas desenvolvem projetos focados em manufatura avançada, apontou Pacheco.

“Há um crescente interesse de startups apoiadas pelo PIPE em desenvolver projetos relacionados à automação e inteligência artificial, além de fotônica, robótica e digitalização. E essas competências tecnológicas têm sido desenvolvidas em São Paulo”, afirmou.

Por outro lado, há novas competências que são mais recentes e precisam de muito maior atenção em termos de apoio a projetos para desenvolvê-las, apontou. Entre elas estão digitalização, realidade aumentada, impressão 3D e materiais inteligentes ou funcionais, como metais leves e de alta resistência, ligas de alto desempenho, cerâmicas avançadas, compósitos e polímeros.

“Temos observado um crescimento significativo de projetos apoiados pelo PIPE em áreas como Internet das Coisas, Big Data, computação em nuvem e manufatura avançada. Mas são coisas muito mais recentes e que merecem mais atenção”, avaliou Pacheco.

No início de maio, a FAPESP também lançou chamada, encerrada em1 de fevereiro de 2018, para seleção de empresas ou consórcios de empresas que queiram se tornar parceiros da Fundação na criação de um Centro de Pesquisa em Engenharia em Manufatura Avançada.

E, recentemente, o Conselho Superior da FAPESP aprovou uma estratégia para que a instituição possa apoiar projetos de pesquisa voltados ao desenvolvimento de tecnologias em áreas consideradas críticas: agricultura de precisão, Internet das Coisas e cidades inteligentes, aeronáutica e espaço e manufatura avançada, entre outras, destacou Pacheco.

“Pretendemos estimular projetos nessas áreas que elegemos como prioritárias na forma de consórcios entre universidades, empresas e institutos de pesquisa”, afirmou Pacheco.

A FAPESP e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) lançaram edital para apoiar pequenas empresas na realização de pesquisa para o desenvolvimento de inovação em manufatura avançada. O prazo de inscrições de propostas encerrou no dia 11 de dezembro.