Timpel aprimora tecnologia de ventilação artificial
26 de junho de 2018Suzel Tunes | Pesquisa para Inovação – A empresa paulista Timpel, de São Paulo, traz em seu próprio nome a inovação tecnológica que lhe deu origem. Timpel é acrônimo para Tomógrafo por Impedância Elétrica (TIE), utilizado para monitorar pacientes em tratamento intensivo que necessitam de ventilação artificial, desenvolvido ao longo de vários anos de pesquisa.
Agora, os pesquisadores da Timpel buscam aprimorar essa tecnologia por meio de um projeto apoiado pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP. O projeto tem por objetivos a inclusão de uma nova ferramenta computacional de suporte à decisão clínica voltada à proteção pulmonar, e comprovação da sua eficácia.
Para isso, a Timpel participou de vários estudos, dentre os quais o “Ensaio de Recrutamento Alveolar”, liderado pelo Hospital do Coração de São Paulo. O engenheiro elétricista Rafael Holzhacker, presidente da Timpel, relata que os estudos buscam comparar duas diferentes estratégias utilizadas em pacientes com hipoxemia: o tratamento convencional (estratégia ARDSNet) e a estratégia OLA, sigla para open lung approach.
Ele explica que, quando o paciente fica muito tempo deitado, sob ventilação mecânica, a parte posterior do pulmão, mais próxima às costas, começa a se fechar em razão do efeito da gravidade. Quando isso acontece, os alvéolos ficam colapsados, ou abrindo e fechando no decorrer da ventilação, causando uma perigosa resposta inflamatória. Para evitar estes eventos adversos, a estratégia OLA consiste em deixar o pulmão “aberto”, insuflando ar com pressão suficiente para não deixar que os alvéolos se fechem.
Segundo Holzhacker, até a existência do TIE, os médicos não tinham segurança para adotar essa estratégia de pulmão aberto, com receio de causar alguma lesão, o que agravaria o quadro do paciente. Preferiam utilizar a estratégia ventilatória padrão, a ARDSNet (Acute Respiratory Distress Syndrome Network), que prioriza ventilação com baixo volume.
O monitoramento da ventilação mecânica por meio do tomógrafo por impedância elétrica permite a adoção de tratamento mais seguro para o paciente e de forma individualizada e assertiva. “O uso do nosso equipamento permite que o médico observe imediatamente se a estratégia escolhida está funcionando e identifique precocemente possíveis complicações. Os usuários buscam uma ventilação de precisão, adequada a cada paciente”, afirma o pesquisador.
Diagnósticos pulmonares também seriam possíveis pela utilização de um tomógrafo computadorizado (que utiliza raio X para fazer imagens de alta resolução). “Mas o uso desse equipamento traz ao paciente os riscos da radiação e do transporte até a sala de radiologia, aumentando a complexidade do tratamento e custo para o sistema de saúde, enquanto o TIE permite que o exame seja feito no leito, quantas vezes forem necessárias, e não emite raio X”, salienta Holzhacker.
O tomógrafo da Timpel baseia-se na avaliação da diferença de resistência a uma corrente elétrica (a impedância) de diferentes partes do corpo. As imagens são obtidas por meio de uma cinta com 32 eletrodos – similares às utilizadas em um eletrocardiograma – que envolve o tórax do paciente. Quando o aparelho é ligado, uma corrente elétrica de baixa intensidade atravessa o tórax e, ao encontrar diferentes resistências no percurso, indica a região por onde o ar está circulando.
O equipamento gera uma imagem do fluxo do ar nos pulmões, permitindo ao médico controlar o fluxo e a pressão do ar aplicado. Assim, ele pode escolher a estratégia de ventilação mais eficaz para cada paciente. E, para ajudá-lo nessa decisão, os pesquisadores da Timpel estão incorporando ao tomógrafo uma ferramenta de suporte à decisão clínica: um software que faz a avaliação da “recrutabilidade pulmonar” do paciente.
“Basta que o médico faça um pequeno teste, injetando ar a uma determinada pressão, para que o software avalie a chance de o paciente responder positivamente à estratégia de ventilação protetora”, explica Holzhacker. “Essa ferramenta de apoio é importante porque permite que cada paciente receba o tratamento mais adequado à cada momento. Ninguém vai receber pressões mais altas se isso não for benéfico, nem ficará com o pulmão fechado e sujeito à inflamação se for capaz de responder bem à ventilação protetora”, afirma o pesquisador.
Atualmente, a Timpel tem mais de 80 aparelhos em operação no Brasil e também nos Estados Unidos, Canadá, Chile, Peru, Suécia, Espanha, França, Alemanha, Itália, República Tcheca e Japão. Os primeiros equipamentos começaram a ser comercializados em 2015, depois que a empresa obteve a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Comunidade Europeia. Nos Estados Unidos, a venda do TIE visa atender a pesquisa clínica, enquanto a Timpel aguarda a aprovação da Food and Drug Administration (FDA).
Do laboratório para a empresa
O equipamento da Timpel resulta de vários anos de parceria da Timpel por meio de convênios com a Faculdade de Medicina, Escola Politécnica da USP e Universidade Federal do ABC. Os primeiros estudos sobre novas técnicas de ventilação artificial datam do ano de 2002 e revelaram a necessidade de um equipamento que fizesse um monitoramento contínuo e individualizado das estratégias de tratamento.
Em 2003, um protótipo do TIE foi montado como parte de um Projeto Temático financiado pela FAPESP, com componentes existentes no mercado. Para desenvolver esse equipamento no Brasil nasceu a empresa, em 2004, inicialmente incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), na Cidade Universitária da USP. Em 2006, o tomógrafo já era utilizado experimentalmente no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP para monitorar pacientes em tratamento intensivo.
Hoje a empresa já conta com 35 funcionários, cerca de metade dedicada à área de pesquisa e desenvolvimento. E, além da sede, em São Paulo, mantém uma filial na Holanda, com uma equipe de vendas e de suporte clínico para atender os clientes da Europa.
Segundo Rafael Holzhacker, a Timpel continuará aprimorando o equipamento, visando a expandir as vendas no Brasil e no exterior. “Queremos que ele tenha cada vez mais funcionalidades, sendo indispensável dentro da UTI”, diz o presidente da empresa.
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