Sistemas desenvolvidos pela R4F tornam os processos produtivos em estufas agrícolas passíveis de monitoramento e controle a distância

Tecnologia da informação melhora produtividade e qualidade de plantas e frutos

29 de novembro de 2016

O cultivo de verduras, legumes, frutas e flores em ambiente protegido (estufas) é uma estratégia cada vez mais usada no mundo todo, especialmente porque essas estruturas proporcionam aumento de produtividade e qualidade em área reduzida e protegem as culturas de condições climáticas adversas como temporais, geadas, nevadas, granizo, frio extremo, entre outras.

Se a ideia é proteger as culturas dos efeitos adversos do clima, garantindo uma produção de qualidade constante ao longo do ano, então luz, calor e umidade nesse ambiente precisam ser controlados conforme as necessidades das plantas e conforme o conjunto de técnicas de manejo adotado.

Apesar da importância e das vantagens do controle microclimático, boa parte dos produtores agrícolas não o realiza ou o faz de forma intuitiva, sem levar em consideração qualquer parâmetro.

Ao identificar essa necessidade de mercado, a empresa R4F viu a possibilidade de aplicar sua expertise em Redes de Sensores Sem Fio (RSSF) para desenvolver um sistema de monitoramento de estufas agrícolas e um sistema inteligente de fertirrigação.

A R4F foi fundada em 2008 por engenheiros e pesquisadores especialistas em redes de telecomunicações. Sediada na Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec), iniciou suas atividades em sistemas de rádio sobre fibra, prestando serviços a diversas empresas e órgãos governamentais.

A partir de 2011 iniciou trabalhos de pesquisa e desenvolvimento na área de rede de sensores sem fio e, em 2012, entrou no mercado de monitoramento de estufas agrícolas por meio de RSSF.

O produto que marcou o ingresso da R4F nesse segmento foi o Sismon, desenvolvido com apoio do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), num projeto concluído em 2014. Testado e ajustado com o auxílio de produtores de tomate cereja das cidades paulistas de Biritiba Mirim, Mogi das Cruzes, Ibiúna e São Roque, além de produtores do Rio Grande do Sul e Goiás, o Sismon foi bem aceito no mercado.

O sistema permite ao produtor agrícola o acompanhamento contínuo, em tempo real, das condições microclimáticas da estufa em qualquer lugar do mundo conectado à internet, proporcionando ao gerenciador da produção subsídios para melhorar o manejo da cultura.

Entretanto, segundo Eduardo Fernandes Nunes, sócio da empresa, somente monitorar não era o bastante. Por isso a R4F prosseguiu seu aperfeiçoamento por meio de mais dois projetos de pesquisa apoiados pelo programa PIPE, concluídos em agosto deste ano, que representam um salto qualitativo no portfólio da empresa: o Gateway Sem Fio e Controlador Inteligente para estufas agrícolas (GSIC-200) e o sistema Intelliferti HM de fertirrigação inteligente para atender a demanda completa de manejo dos processos produtivos (microclima e nutrição).

“O GSIC-200 é um sistema híbrido capaz de reunir em um único produto a função de gateway – isto é, de interligar redes e dados – da rede de sensores sem fio, concomitantemente com a função de controlador inteligente das instalações da estufa nos níveis operacional, tático e estratégico”, disse Nunes, que coordena o desenvolvimento do GSIC-200.

Segundo ele, o controle tático e estratégico das estufas permite o acompanhamento de condições só encontradas em regiões mais quentes, como as brasileiras, e a inserção de informações de manejo, controle de pragas e demanda hídrica-nutricional auxiliares ao processo decisório. Já a função de gateway do GSIC-200, que caracteriza o produto como IoT (Internet of Things), permite aos usuários usufruir dos benefícios do monitoramento remoto e de ferramentas como Big Data para melhorar o processo produtivo a partir da análise do histórico consolidado.

O projeto da R4F reúne em um mesmo hardware as características de processamento, memória e estabilidade necessárias para atender as duas funções, de gateway e de controlador. Segundo Nunes, isso representa uma economia para o produtor agrícola porque o exime de ter que adquirir dois equipamentos, cada um com uma das funções, e de contratar serviços de empresas de integração ou automação das duas funções.

Outro desafio tecnológico superado pela R4F para evitar que a configuração da RSSF precisasse ser customizada para cada cliente, evitando gastos com serviços especializados de integração e automação, foi o desenvolvimento de um middleware para gerar um arquivo padrão que configura a rede de forma automática.

Além disso, o GSIC-200 pode auxiliar o planejamento e a tomada de decisões no médio e longo prazos. “O produtor pode consultar o registro histórico e correlacionar os índices de produtividade obtidos com parâmetros microclimáticos e de manejo, permitindo um refinamento no modo de operar para as demais safras”, explicou Nunes.

O GSIC-200 já é comercializado com suas atuais funcionalidades. Hoje 20 produtores de tomate, rúcula, agrião e alface de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Minas Gerais e Tocantins já utilizam o sistema.

Parte deles, que faz uso conjunto dos sistemas GSIC-200 e do Intelliferti HM, registrou um aumento médio de 27% na produtividade, de acordo com Nunes.

Segundo Haroldo Ferreira de Araújo, sócio responsável pelo desenvolvimento do Intelliferti HM, o sistema agrega funcionalidades ao GSIC-200: é capaz de injetar até seis fertilizantes concentrados de maneira variável e independente, permite a aplicação de receitas de nutrição variáveis, levando em consideração os tipos e o crescimento das plantas, com manejo da fertirrigação em tempo real, controlados por eletrônica embarcada, e ajuda a entregar com mais precisão a quantidade de água e de adubo que a planta precisa em cada fase de seu desenvolvimento.

“Essas medidas são importantes para manter a robustez da planta, diminuir a incidência de pragas e doenças, o uso de defensivos, além da quantidade de água, que são aspectos fundamentais para aumentar a produtividade e qualidade com redução de custos e de mão de obra”, explicou Araújo. Segundo ele, o produto está sendo testado e consolidado com perspectiva de entrar no mercado até junho de 2017.

O cliente adquire o sistema completo com um ano de manutenção, após o que passa a pagar anuidades. Em 2015, o faturamento da R4F girou em torno de R$ 350 mil.

Nunes e Araújo se conheceram no doutorado em Engenharia Agrícola na Unicamp. Ambos integravam a equipe de pesquisadores coordenada pelos sócios-fundadores da R4F, Omar Carvalho Branquinho e Marco Aurélio Fortes, que se afastaram da empresa em 2015, transferindo a Nunes o controle. Em 2016, Araújo entrou na sociedade junto com o engenheiro de produção Raphael Crisostomos Cazelli.

Nunes considera que o apoio do programa PIPE foi fundamental para o desenvolvimento dos sistemas: “Sem esses recursos levaríamos muito mais tempo para concluir ou talvez o projeto até se inviabilizasse”. 

R4F Tecnologia Ltda.
Site: www.r4f.com.br
Fone: (19) 3326-2019