Nanopartículas bactericidas da Nanox conquistam mercados

14 de junho de 2016

Quando o porteiro da Taiff atendeu o telefone e transferiu a ligação para o diretor de inovação da empresa, o químico Luiz Gustavo Pagotto Simões, então com 25 anos, achou que tinha sido um lance de sorte. Começou a acreditar que a ideia de aplicar filmes finos com propriedade bactericida e ação anticorrosiva em metais inox poderia dar certo quando a fabricante de secadores e chapas para cabelos incorporou a tecnologia à sua linha de produtos. Mas não poderia imaginar que, em menos de uma década, as partículas nanoestruturadas à base de prata produzidas pela Nanox já estariam integradas em garrafas e utensílios de plástico, filmes de PVC, assentos sanitários, palmilhas de sapatos, fibras de tapetes, superfície de instrumentos odontológicos, entre outros, e que começariam a ganhar o mercado externo.

A ideia de criar a empresa surgiu quando Simões e dois pós-graduandos do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara desenvolviam pesquisas no Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), um dos CEPIDs financiados pela FAPESP.

Então incubada no Parque Tecnológico de São Carlos, a Nanox – que, na época, ainda tinha o nome de Science Solution – teve apoio da FAPESP por meio do PIPE, para o desenvolvimento de filmes finos com propriedade bactericida e ação anticorrosiva para aplicação em metais, e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

A tecnologia inovadora atraiu investidores. “Recebemos aporte de recursos do Fundo Novarum e nos transformamos em uma S.A. de capital fechado”, conta Simões, diretor da empresa. Apesar dos apoios, não foi fácil prospectar clientes. “O mercado não enxerga a universidade e tem preconceitos”, sublinha Simões. 

O cenário começou a mudar quando eles ganharam um cliente do porte da Taiff. “Tivemos que rever o plano de negócio: em menos de um ano atingimos o ponto de equilíbrio previsto para ocorrer ao final de 24 meses.” Junto com a revisão de metas, a Nanox adequou o sistema de gestão da empresa, criando conselhos de Administração e Científico, e passou a investir pesado em P&D. No ano seguinte recebeu o prêmio Inovação Tecnológica da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). 

Em 2013 a empresa já incorporava partículas de prata a garrafas de plástico para aumentar o shelf life (vida útil) de produtos. Um de seus clientes, a Agrindus, por exemplo, dobrou o prazo de validade do leite fresco pasteurizado tipo A que comercializa com a marca Letti em 45 cidades paulistas (leia mais em http://agencia.fapesp.br/21325).

O problema é que nem o Brasil e nem qualquer outro país do mundo têm legislação sobre o uso de nanopartículas em embalagens que tenham contato direto com alimentos. “A FDA [Food and Drug Administration], por exemplo, tem uma força-tarefa estudando esta regulamentação desde 1997”, diz Simões. Por conta disso, nesse tipo de embalagem a Nanox tem que substituir as nanopartículas de prata por micropartículas e certificar seu uso em laboratório escolhido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 

A empresa tem exportado para Chile, Colômbia e México. Mas a falta de legislação limita a atuação da Nanox no mercado norte-americano. A empresa já obteve registro da FDA para comercializar o material bactericida em embalagens de alimentos nos Estados Unidos. Negocia, agora, a autorização da Environmental Protection Agency (EPA). “Já submetemos o produto e dependemos desse aval para iniciar a exportação. As expectativas são positivas”, ele adianta. 

Vídeo sobre tecnologia desenvolvida pela Nanox: 

Empresa: Nanox – Intelligent Materials
Site:  www.nanox.com.br
Projetos financiados pela FAPESP: www.bv.fapesp.br/pt/metapesquisa/?q=Nanox