Empresa que usou técnicas de visão e inteligência artificiais para melhorar a produção de plantas ornamentais e tomate se prepara para levar sua inovação ao mercado florestal e de cana. Em 2016, MVisia fechou três contratos para a calibradora eletrônica de tomates grape

MVisia adapta produto para conquistar diferentes mercados

27 de setembro de 2016

Nem sempre a inovação idealizada pelo empreendedor é a que o mercado precisa. Ouvir o mercado para detectar suas necessidades ajuda a definir o foco do empreendimento e norteia a busca por soluções inovadoras. Foi assim com a MVisia, que concluiu o período de incubação no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), em São Paulo, em meados de 2016.

Quando foi criada, em 2012, a ideia inicial de seus sócios-fundadores era oferecer automação sem fio para controle de ambiente em estufas agrícolas. Depois de algumas visitas em campo, eles perceberam que essa demanda não existia, mas que havia oportunidade de negócios para tecnologias que permitissem a classificação visual automatizada de mudas de plantas ornamentais.

A solução implementada para um produtor de violetas, em Holambra, São Paulo, principal centro floricultor do país, já foi adaptada para produtores de tomates miúdos e, em breve, poderá ser utilizada também por produtores de eucalipto e de cana-de-açúcar. A mesma tecnologia pode atender mercados com perfil e potencial diferentes.

O primeiro projeto da MVisia, que contou com apoio do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), foi o desenvolvimento de uma seletora automática de mudas. A partir do contato com o floricultor, os três engenheiros da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) Luiz Otávio Lamardo Alves Silva, Marcelo Li Koga e Laio Burim, sócios-fundadores da MVisia, criaram um sistema computacional capaz de analisar imagens de mudas de plantas e classificá-las de acordo com o seu nível de qualidade.

Como é regra no setor, a seleção de mudas ornamentais nessa empresa era feita manualmente por funcionárias. Mas depois de uma ou duas horas de trabalho a acuidade da seleção diminuía muito, por ser uma atividade extremamente repetitiva, dando margem a numerosos erros de classificação. Como as plantas devem passar por diversas estufas e ser submetidas a diferentes procedimentos ao longo de seu ciclo de crescimento, as mudas malclassificadas não recebiam o tratamento adequado, resultando daí a perda de qualidade do produto final.

“A partir das fotos das mudas, o sistema identifica um conjunto de parâmetros que possibilita classificá-las com até 80% de acerto”, disse Silva. Esse percentual de acerto é bastante superior ao da seleção um tanto intuitiva feita por seres humanos. “O produtor ficou satisfeito com o resultado, já que teve um ganho de produtividade de 35%”, disse Silva.

A tecnologia e o equipamento de seleção de mudas de plantas ornamentais foram aperfeiçoados e testados em algumas unidades produtoras como prova de conceito e para eventuais adequações às necessidades do cliente. “Trata-se de um mercado restrito, em que a compra de uma máquina é considerada um investimento elevado. Naturalmente surge a preocupação em saber se o fornecedor é uma empresa sólida e se dará suporte ao produto no longo prazo”, analisou Silva.

No início de 2016, Silva e os outros sócios-fundadores passaram o controle da MVisia para os engenheiros da Poli-USP Fernando Lopes, Henrique Oliveira e Fernando Velloso, que já eram parceiros da MVisia desde 2014 e assumiram a gestão da empresa, dando continuidade aos projetos em desenvolvimento.

Segundo Velloso, neste ano venderam uma máquina para seleção de mudas de echevérias (planta da categoria das suculentas conhecida popularmente como rosa-de-pedra) e estão em contato com produtores da região de Holambra para oferecer seleção automática de vasos de flores.

Outro produto derivado da seletora de violetas – a calibradora eletrônica de tomates grape (miúdos) – obteve resultados bem mais favoráveis. A MVisia fechou três novos contratos este ano, dois de aluguel do equipamento e um de venda, que se soma a outras duas vendas fechadas anteriormente.

A calibradora chega a classificar até 380 kg de tomates por hora, apontando defeitos de forma, na casca e de coloração e avaliando os frutos saudáveis em até seis níveis de tamanho, o que garante padronização e qualidade do produto a ser embalado.

A MVisia também está se preparando para atender grandes produtores do setor e para entrar em novos mercados. Segundo Velloso, a equipe está desenvolvendo uma nova versão da máquina calibradora, que poderá separar até 750 kg de tomates por hora. Além disso, com apoio do programa PIPE da FAPESP, a empresa está aperfeiçoando e adaptando as máquinas e os algoritmos para testar a tecnologia no mercado florestal. “O produto é conceitualmente o mesmo, só que adaptado para mudas de eucalipto e de cana-de-açúcar”, explicou.

A empresa finalizou a construção de um protótipo e testou o conceito da máquina para seleção e inspeção de mudas de eucalipto. Após várias interações está se preparando para lançar o produto em escala comercial. A primeira versão da máquina está sendo construída e o algoritmo de visão computacional está em fase de testes. “Mapeamos 600 potenciais clientes nesse mercado, que anualmente gira recursos da ordem de R$ 1 bilhão”, disse Velloso.

MVisia Comércio de Equipamentos Eletrônicos Inovadores
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