Alguns projetos foram apresentados durante workshop promovido pela FAPESP e pelo International Development Research Centre (IRDC), no final de outubro (foto: Wikimedia Commons)

Empresas paulistas e mexicanas trocam informações sobre tecnologias de combate a arboviroses

12 de novembro de 2019

André Julião  |  Pesquisa para Inovação – Os desafios para combater as chamadas arboviroses, doenças transmitidas por mosquitos – como dengue, febre amarela, zika e chikungunya –, mobilizam pesquisadores não só na academia como em pequenas empresas. No Brasil e no México, países onde essas doenças têm alta incidência, produtos inovadores estão sendo desenvolvidos para combater o Aedes aegypti.

Alguns desses projetos foram apresentados durante um workshop promovido pela FAPESP e pelo International Development Research Centre (IRDC), no final de outubro. A instituição, parte do programa de ajuda internacional do governo do Canadá, apoia pesquisas em países em desenvolvimento.

“Esse encontro possibilitou um intercâmbio entre empresas e pesquisadores apoiados pela FAPESP, em São Paulo, e pelo IDRC, no México. Para nós, é de alta prioridade o desenvolvimento de parcerias com fundações e agências na América Latina. Por isso, é estratégico trabalhar com a FAPESP”, disse Roberto Bozzano, especialista sênior de programas do IDRC.

As empresas paulistas são apoiadas por meio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) e desenvolvem tecnologias para combater o mosquito, uma das ações apontadas por especialistas como estratégicas para combater as arboviroses.

Rodrigo Perez, presidente da BR3, apresentou o DengueTech, um biolarvicida à base de bactérias conhecidas por combater larvas sem toxicidade para humanos e animais. O projeto contou com apoio da FAPESP e da Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep) por meio do Programa PAPPE/PIPE Subvenção.

O produto foi desenvolvido em parceria com a Fiocruz e já está disponível no mercado. É composto por uma forma modificada do BTI (sigla para Bacillus thuringiensis, sorotipo israelensis).

Os tabletes podem ser aplicados em pratinhos de plantas, caixas d’água e mesmo em água potável, locais que podem funcionar como criadouros do mosquito.

“O produto é altamente seletivo para o A. aegypti, não afetando outras espécies como abelhas, por exemplo. A ideia é que ele seja usado tanto em campanhas de saúde pública quanto em uso doméstico pelas famílias, transformando pequenos criadouros em armadilhas contra o mosquito. Esse controle pode ser feito de forma sustentável e preventiva, ao longo de todo o ano, de forma a fazer uma supressão do vetor das doenças”, disse Perez. Um pequeno tablete do DengueTech tem ação de até 60 dias.

Inseticidas biodegradáveis

Também aplicado nos potenciais criadouros do mosquito, o AMS, tecnologia criada pelo Matlabs, de Sorocaba, mata o mosquito tanto na forma de larva como de ovo, pupa e mesmo na fase adulta, ao formar uma película sobre a água que impede o desenvolvimento do animal. A pesquisa contou com apoio da FAPESP.

O líquido, à base de compostos naturais, é dispensado por um dosador, programado para liberar doses suficientes para proteger a água antes de o produto ser degradado.

“A tecnologia é um inseticida que pode ser utilizado em sistemas de água potável. A diferença para outros é que ele não intoxica o inseto, mas promove a morte pelo que chamamos de uma ação majoritariamente física. Ainda está em fase de experimentos, principalmente da segurança de aplicação. Mas os ativos são biodegradáveis e não contaminam o ambiente”, disse Gedeão Klarosk Perez, fundador da empresa.

O desenvolvimento de inseticidas alternativos é importante porque, além de poluentes, os produtos que estão no mercado acabam gerando resistência nos mosquitos. Uma das tecnologias apresentadas trata justamente de avaliar essa resistência.

Teste de resistência

Em uma pesquisa realizada em 130 cidades do Brasil, os pesquisadores da Promip, empresa sediada em Engenheiro Coelho, no interior de São Paulo, verificaram que a resistência dos mosquitos varia de um município para o outro. Por isso, antes de decidir qual inseticida aplicar em campanhas de saúde pública, o ideal seria verificar qual oferece menos resistência aos mosquitos daquela área.

A pedido do Ministério da Saúde e com apoio da FAPESP, a empresa desenvolveu um teste que mostra a resistência a diferentes produtos disponíveis no mercado, mostrando qual o mais adequado para cada cidade pesquisada.

“Coletamos os ovos do mosquito em campo e levamos para o laboratório para fazer os testes. Uma molécula chamou nossa atenção por promover uma baixa mortalidade. Curiosamente, ela tem o mesmo mecanismo de ação de um outro produto largamente usado em campanhas de combate ao mosquito no Brasil inteiro”, disse Guilherme Trivelatto, consultor de manejo de vetores da Promip.

Repelentes, tinta e tela

O desenvolvimento de novos repelentes também é explorado por algumas empresas e grupos de pesquisa. A Nanomed, de São Carlos, desenvolveu um sistema de liberação controlada de óleo essencial para ser usado em repelentes de mosquito. O produto aguarda autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser comercializado.

“É um ativo completamente novo para esse tipo de uso. Por meio de nanotecnologia, ele é liberado aos poucos na pele e protege por mais tempo”, disse Amanda Luizetto dos Santos, sócia-fundadora da empresa, que teve apoio da FAPESP e da Finep por meio do Programa PAPPE/PIPE Subvenção.

O encapsulamento de outro óleo essencial, de citronela, é objeto de estudo de um projeto apoiado pela FAPESP e conduzido por Vânia Rodrigues Leite e Silva, professora do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Universidade Federal de São Paulo (ICAQF-Unifesp), em Diadema.

Já a empresa Chemyunion realiza simulações computacionais para chegar a moléculas com potencial para servirem como princípio ativo de novos repelentes. Após 100 mil compostos candidatos, os pesquisadores chegaram a cinco que deverão ser testados em breve.

Linhas transgênicas de mosquitos

Além dos empreendedores, pesquisadoras da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) apresentaram pesquisas com foco no combate ao mosquito.

“É preciso um controle integrado. Não será apenas uma abordagem que vai dar conta das doenças. No entanto, a erradicação [dos mosquitos] é um ponto central do controle”, disse Margareth Capurro, professora do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, que desenvolve linhagens transgênicas de mosquitos para controle das arboviroses.

Segundo a pesquisadora, além da erradicação são necessárias medidas de educação da população, desenvolvimento de vacinas, eliminação de potenciais criadouros como pneus, garrafas e depósitos de lixo e uso de larvicidas e inseticidas (leia mais em: http://agencia.fapesp.br/28078/).

Tinta inseticida

Os pesquisadores mexicanos apoiados pelo IDRC apresentaram uma tinta que libera inseticida encapsulado por meio de nanotecnologia, protegendo residências e escolas públicas por pelo menos um ano e meio. O projeto foi apresentado por Jorge Méndez, pesquisador do Hospital Infantil do México, e Mauro Corral, da empresa Codequim, que estão analisando a eficácia e a segurança do produto para comercialização no México.

Outro projeto apoiado pelo IDRC foi apresentado por Pablo Manrique e Norma Pavia, pesquisadores da Universidad Autónoma de Yucatán, Rosa Mendez Vales, da Secretaria de Saúde de Yucatán, e Alfonso Flores Leal, da empresa Public Health Supply and Equipment de Mexico. Eles desenvolveram uma tela especial para portas e janelas. Além de impedir a entrada de insetos nas residências, o produto tem um inseticida em sua composição que mata os mosquitos, aumentando ainda mais sua eficiência.

A comitiva mexicana foi composta ainda de Federico Gómez, especialista em epidemiologia e controle de doenças transmitidas por vetores, e Erick Azamar Cruz, do Hospital de Alta Especialidade de Oaxaca.