Forma de controle mais precisa permite a adoção de modelo de negócio baseado não mais na venda da máquina, mas na comercialização do serviço prestado

Dispositivo conecta à internet máquinas não automatizadas

21 de novembro de 2017

Suzel Tunes | Pesquisa para Inovação – Com apenas quatro anos de existência, a empresa DEV Tecnologia se destaca num setor em ascensão: o da Internet das Coisas (ou IoT, da sigla em inglês), que oferece a possibilidade de conexão de objetos de uso cotidiano à internet. A startup já oferece soluções tecnológicas para mais de 50 empresas no país e agora, com o apoio do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), prepara-se para produzir em larga escala um dispositivo que conecta máquinas e equipamentos, o DEV FieldConnect. “Estamos entre as primeiras a se posicionar estritamente no setor de Internet das Coisas”, afirma Camilo Rodegheri, sócio-fundador da DEV.

O projeto do DEV FieldConnect iniciou o PIPE Fase 3 – de desenvolvimento comercial do produto – em fevereiro de 2017. Especialmente concebido para aplicações de IoT, trata-se de um gateway, uma espécie de “concentrador”, como ele diz, capaz de armazenar, controlar e transmitir dados de sensores para a internet. “É um dispositivo que pode tornar outros dispositivos conectados à internet”, resume Rodegheri. Assim, quando instalado em uma máquina não automatizada, ele realiza o que se chama em engenharia de retrofit, ou seja, uma modernização, tornando-a conectada à rede.

No PIPE Fase 2 – de desenvolvimento de protótipos –, o produto da DEV Tecnologia foi testado, com sucesso, em uma máquina recicladora de solventes químicos fabricada pela indústria Rochmam. Ao receber sensores conectados à internet, a máquina passou a permitir monitoramento on-line de seus parâmetros operacionais, como número de horas trabalhadas e eventuais falhas de operação.

Essa forma de controle, mais precisa, possibilita ao fabricante adotar um modelo de negócio baseado não mais na venda da máquina, mas na comercialização do serviço prestado por ela: o chamado sistema produto-serviço, ou PSS, sigla de product-service system (saiba mais em http://revistapesquisa.fapesp.br/2017/09/22/pague-pelo-usufruto/). O novo modelo de negócio está sendo implementado pela engenheira Sílvia Mayumi Takey, sócia da DEV Tecnologia, que, com o apoio da FAPESP, pesquisa a possibilidade do uso dessa solução em larga escala.

Camilo Rodegheri aposta que o produto será bem recebido pelo mercado, sobretudo o brasileiro, já que boa parcela do parque industrial ainda se encontra em fase de pré-automatização. Os estudos da Fase 3 do PIPE contemplam também a comercialização do produto no mercado externo. “Existem similares no exterior, mas não com a proposta de valor que oferecemos. Geralmente o gateway é vendido separado da automação. Estamos fazendo essa junção, oferecendo um único processador capaz de realizar várias tarefas.”

Mudança de foco

Incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), na Universidade de São Paulo (USP), desde 2013, a DEV Tecnologia nasceu como uma empresa de equipamentos para pesquisa científica, uma spin-off da Escola Politécnica (Poli) da USP. O primeiro projeto PIPE em 2015 visava o desenvolvimento de rastreadores de olhar (eye-trackers), dispositivos que medem a direção e o comportamento do movimento ocular de uma pessoa.

A DEV tinha, então, quatro integrantes, todos engenheiros recém-formados pela Poli: Camilo Rodegheri e Marcelo Pessi, os fundadores, aos quais se uniram Artur Polizel e Sílvia Takey.

Os pesquisadores desenvolveram o protótipo de um dispositivo composto por hardware (óculos de captura) e softwares de processamento e análise que permitem diagnosticar comportamentos do olhar durante a realização de diferentes tarefas. O eye-tracker pode ter diversas aplicações, como estudos de neurociência, psicologia e neuromarketing, além da realização de diagnósticos de problemas de leitura e acessibilidade de pessoas com restrições de movimento.

O projeto encerrou a Fase 2 cumprindo os objetivos propostos – inclusive o desenvolvimento do protótipo –, mas os pesquisadores decidiram não submetê-lo à Fase 3 após uma avaliação do mercado. “Conseguimos vencer os desafios técnicos que havíamos assumido e esse projeto nos deu bastante experiência e maturidade em relação ao desenvolvimento da tecnologia, especialmente em processamento de hardware embarcado de baixo custo”, afirma Rodegheri.

Algumas unidades do eye-tracker estão sendo usadas por pesquisadores, mas o produto não será comercializado. “Percebemos que o mercado de eye-tracking ainda vai levar alguns anos para ficar maduro. É questão de timing e de posicionamento estratégico. Observamos que havia muito mais potencial de mercado em Internet das Coisas e resolvemos nos posicionar nesse setor”, diz ele.

O crescimento da empresa no último ano mostra que a decisão foi acertada. Dos quatro integrantes de 2014, a empresa chegou a 25 funcionários em 2017. Continua instalada no Cietec, agora já graduada pela incubadora, e desenvolve uma família de produtos, baseados em tecnologia IoT, para localização indoor de pessoas e ativos e para sensoriamento de ambientes e máquinas.

Um dos produtos de maior comercialização – com 20 mil peças já vendidas – é o beacon, dispositivo que se comunica com aplicativo de celular ou plataforma de internet, por meio de um transmissor Bluetooth, informando identidade e proximidade de pessoas. Segundo Rodegheri, o DEV Beacon, lançado no final de 2016, está entre os primeiros dispositivos do gênero desenvolvido 100% no Brasil.

Dentre as várias possibilidades de uso do DEV Beacon está a comunicação do lojista com o consumidor. “O consumidor pode receber mensagens de boas-vindas pelo celular ou informações sobre os produtos dos quais se aproxima”, exemplifica. Em museus ou exposições, o dispositivo pode enviar informações adicionais sobre as obras expostas diretamente para o celular do visitante.

Mas, por enquanto, o maior interesse dos clientes da DEV tem sido o uso industrial dessa tecnologia, para o controle de estoque e de pessoal. É o que faz o produto batizado de DEV Track. Derivado da tecnologia do Beacon, ele rastreia objetos e pessoas por meio de uma tag, uma identificação eletrônica. Instalado em crachás funcionais, por exemplo, permite ao empregador monitorar a posição do funcionário.

“Na empresa de alimentos BRF, o DEV Track tem sido utilizado para a localização de mais de 20 mil funcionários em plantas industriais, para monitorar a realização das pausas térmicas”, diz Rodegheri. Ele explica que as pausas térmicas são intervalos exigidos pela lei trabalhista para os funcionários que trabalham em frigoríficos, sob baixas temperaturas. Com o monitoramento, o empregador se certifica de que essas pausas sejam cumpridas e, assim, previne-se de processos trabalhistas.

E não são apenas as empresas privadas que estão buscando se beneficiar das soluções oferecidas pela Internet das Coisas. Em novembro de 2015, a DEV Tecnologia foi uma das 15 startups selecionadas dentre as 304 que se inscreveram na primeira edição do programa PitchGov SP do governo do Estado de São Paulo, que busca iniciativas inovadoras aos desafios da administração pública nas áreas de saúde, educação e facilidades ao cidadão. A DEV apresentou um software de identificação de desperdício que reduz custos com consumo excessivo de água e energia elétrica em equipamentos públicos, solução que utiliza o hardware DEV FieldConnect. “O projeto-piloto foi realizado na Etec [Escola Técnica Estadual] Santa Ifigênia e, agora, os resultados estão sendo avaliados pelo governo”, informa o pesquisador.

Leia mais em: Sangue novo da inovação

DEV Tecnologia
http://devtecnologia.com.br
Endereço: Av. Prof. Lineu Prestes 2242 – Cietec – Sala 23, Cidade Universitária São Paulo – SP – Brasil
Telefone: 11 3039-8341
Contato: http://devtecnologia.com.br/contato/