Calmaria inquietante

20 de janeiro de 2017

A Pesquisa de Inovação (Pintec) de 2014, divulgada no dia 9 de dezembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que o resultado do esforço de inovação das empresas brasileiras entre 2012 e 2014 manteve-se estável em relação ao triênio anterior. Das 132.529 empresas brasileiras privadas e públicas pesquisadas, dos setores industrial, de serviços selecionados e de eletricidade e gás, 36% lançaram ou aprimoraram produtos ou inovaram em processos. Essa porcentagem, que espelha a chamada taxa geral de inovação, foi ligeiramente maior que os 35,7% registrados na edição anterior da pesquisa, que avaliou as empresas no triênio de 2009 a 2011. O patamar ainda está aquém dos 38,6% obtidos na pesquisa feita entre 2006 e 2008.

Se a taxa de inovação ficou estável, outros indicadores revelam um crescimento dos obstáculos para inovar no período estudado pela pesquisa, sobretudo no setor industrial, que responde por quase 90% da amostra avaliada pela Pintec. As indústrias investiram em atividades inovativas no período 2,12% de sua receita líquida total de vendas, o menor patamar registrado na série histórica da pesquisa. A taxa em 2011 foi de 2,37% e em 2008, de 2,54%. Esse percentual inclui os investimentos em atividades internas de pesquisa e desenvolvimento (P&D), aquisição externa de P&D, aquisições de conhecimento externo, de softwares e de máquinas e equipamentos, treinamento, introdução de inovações no mercado e projetos industriais. “A indústria foi o setor que mais acusou a crise. E a postura das empresas foi apenas reativa, tendo como foco principal a inovação em processos e não em produtos”, diz o economista Alessandro Pinheiro, gerente da Pintec.

Já nas empresas selecionadas do setor de serviços, o investimento em atividades inovativas em relação à receita líquida de vendas foi de 7,81% em 2014, ante 4,96% em 2011. E entre as empresas de eletricidade e gás, embora tenham de investir em P&D por imposição legal, houve queda de 1,28% em 2011 para 0,57% em 2014. “Como a série histórica de dados sobre as empresas de eletricidade e gás é bem mais curta do que a das indústrias, é prudente aguardar as próximas pesquisas para avaliar tendências de longo prazo”, diz David Kupfer, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Grupo de Indústria e Competitividade da universidade.

Apesar da redução de investimentos, a taxa de inovação no setor industrial aumentou de 35,6% em 2011 para 36,4% em 2014. Nesse universo, 18,2% inovaram apenas em processos, 3,8% só em produtos e 14,5% em produtos e processos. Alguns segmentos se destacaram. Entre as indústrias extrativas, o percentual de empresas inovadoras subiu de 18,9% para 42% entre as duas pesquisas. No caso da indústria de transformação, o aumento foi de 35,9%, em 2011, para 36,3%, em 2014, mas o desempenho variou bastante entre os subsetores. No segmento automobilístico, a taxa subiu de 29,1% em 2011 para 39,1% em 2014. Já no químico, houve queda de 59,1% para 49,6%.

“A inovação no Brasil andou de lado nesse período”, diz David Kupfer. “Para mim, foi surpreendente que não houve uma queda. O período de 2012 a 2014 ainda não era de crise aberta, mas a pesquisa foi respondida em 2015, em um quadro já bastante pessimista que deve se refletir de forma ainda mais aguda na próxima pesquisa.” Kupfer observa, contudo, que alguns analistas esperavam um resultado mais robusto. “O Brasil vinha de uma intensa mobilização empresarial em prol da inovação, com um aumento dos dispêndios com P&D em vários setores”, afirma.

A íntegra da reportagem está disponível no site da Revista Pesquisa FAPESP.