O inovaBra habitat ocupa uma área de 22 mil metros quadrados distribuídos nos 10 andares de um prédio próximo à avenida Paulista, em São Paulo

Ambiente de coinovação do Bradesco reúne 126 startups e 18 grandes empresas

12 de junho de 2018

Claudia Izique  |  Pesquisa para Inovação – O Bradesco inaugurou em fevereiro de 2018 o inovaBra habitat, um espaço de geração de negócios baseados em tecnologias da chamada 4ª revolução industrial: blockchain, big data e algoritmos, internet das coisas (Iot), inteligência artificial, Open API (Application Programing Interface) e plataformas digitais e computação imersiva.

O inovaBra habitat ocupa uma área de 22 mil metros quadrados distribuídos nos 10 andares de um prédio próximo à avenida Paulista, em São Paulo. No início de junho, esse espaço estava povoado por 138 startups, nove fundos de investimentos (com um total de R$ 700 milhões em ativos), 21 grandes corporações (Amazon, Google, Oracle, entre outras), nove parceiros tecnológicos do banco (Visa, Elo, etc.), seis consultorias e duas aceleradoras. A gestão física do espaço é feita pela WeWork, rede global de coworking que atua em 20 países.

Nesse ambiente – que integra demanda, tecnologia e capital –, a distribuição física dos parceiros não segue critérios temáticos ou setoriais. “O foco do inovaBra habitat é promover conexões para a inovação que atendam necessidades dos clientes”, explica Fernando Freitas, superintendente executivo do Departamento de Inovação do Bradesco.

A articulação entre potenciais parceiros é facilitada por consultores especializados que têm a tarefa de identificar as “dores” das grandes empresas residentes, buscar respostas na vizinhança e estabelecer conexões com startups que se mostrarem habilitadas a oferecer soluções. “Escolhida a startup, as partes definem como será feita a entrega da solução a ser homologada e integrada pelo cliente”, resume Freitas. Consultorias parceiras, com serviços de orientação jurídica e de captação de recursos, dão suporte às corporações e às startups.

Esse modelo de inovação, baseado na convergência, colaboração e cocriação para gerar – e compartilhar valor – para empresas, parceiros e clientes, ganhou o nome de coinovação. “Coinovação se refere ao processo de grandes empresas de entregar soluções tecnológicas aos clientes, desenvolvidas em parceria com startups, universidades, institutos de pesquisa, entre outros. Esse é um ponto central para a 4ª revolução industrial”, diz Freitas.

O conceito de coinovação foi descrito no artigo Co-innovation: Convergenomics, collaboration, and co-creation for organizational values, de Sang Lee, Silvana Trimi e David L.Olson, todos da Universidade de Nebraska-Lincoln, publicado em 2012. Os autores consideram a coinovação, ou a inovação 4.0, como a “etapa mais recente da evolução da inovação”, já que responde a um conjunto de “megatendências globais” que estão alterando o ambiente competitivo: redução do ciclo de vida dos produtos, migração de negócios para regiões de baixo custo, terceirização de negócios em economias emergentes, entre outros. Modelos de inovação baseados em competência interna (inovação fechada ou 1.0), em alianças estratégicas na cadeia produtiva (inovação colaborativa ou 2.0) ou em colaborações externas, incluindo universidades e institutos de pesquisa (inovação aberta ou 3.0), não atendem às demandas deste novo cenário, avaliam os autores. “A plataforma de coinovação é construída sobre princípios de convergência de ideias, arranjo colaborativo e cocriação de experiências com as partes interessadas”, afirmam.

Provocação contínua

A Semantix, empresas de soluções em internet das coisas, inteligência artificial e big data, foi das primeiras startups a se instalar no inovaBra habitat, em fevereiro deste ano. “Já trabalhávamos em ambiente de open source e economia colaborativa”, conta Leonardo Santos, CEO da Semantix.

O primeiro projeto teve como parceiro o próprio Bradesco. “Desenvolvemos uma solução de Inteligência Artificial para a área jurídica que já está sendo também utilizada pelo Wallmart e Pão de Açúcar”, afirma Santos. Atualmente, a empresa está desenvolvendo solução em área de sua especialidade em parceria com a Claro.

“Inovação exige a coinovação, que junta startups e grandes empresas para atender uma demanda do mercado”, sublinha Santos. “Você fala de igual para igual com seu parceiro para construir um produto competitivo. É um espaço saudável para a empresa. Ali também é possível fazer parcerias com startups menos maduras e encontrar recursos para financiar projetos conjuntos.”

Criada em 2010, a empresa tem 160 funcionários, 30 deles instalados na plataforma de coinovação do inovaBra. “Os dois ambientes se completam”, diz Santos. “Já estamos na Colômbia e prontos para chegar ao México e aos Estados Unidos.”

Em ambientes de coinovação, ele acrescenta, a provocação contínua é produtiva. "A inovação tem uma propulsão que gera a criatividade. O desafio é manter o foco, já que a demanda é grande.”

Plataforma de Inovação

O inovaBra habitat é um dos instrumentos da plataforma inovaBra, criada para promover a inovação dentro e fora do Bradesco, desenvolvida a partir de um ecossistema de programas baseados, principalmente, na coinovação. Há ainda outros sete instrumentos, entre eles o inovaBra startups, o inovaBra lab e o inovaBra ventures.

“O inovaBra habitat é resultado da experiência do Bradesco com startups. Hoje já são 30 delas entregando soluções para os clientes do banco”, afirma Freitas. Por meio do inovaBra Startups, programa de inovação aberta, o Bradesco busca novos modelos de negócios aplicáveis ao seu portfólio de produtos e serviços. “Fizemos, ao todo, quatro chamadas públicas atendidas por 3 mil empresas. Foram testadas soluções de 30 delas e 10 foram contratadas. Agora, com o inovaBra habitat, não faremos mais chamadas; o trabalho de contratação será contínuo no âmbito de um programa estratégico”, sublinha Freitas.

Já o inovaBra ventures é um fundo de investimento de R$ 100 milhões por meio do qual o Bradesco participa do capital de startups. A participação do banco se faz num percentual entre 10% e 30% do capital e o investimento varia de R$ 1 milhão a R$ 5 milhões.

“A nossa visão é que o mundo digital é constituído de plataformas para atender a necessidades dos clientes. Para tanto, é necessário compor com produtos de parceiros e com inovação aberta e coinovação para complementar a oferta de produtos e serviços”, afirma Freitas.

A FAPESP no inovaBra habitat

Em maio, em evento realizado no inovaBra habitat, Américo Craveiro e Fábio Kon – membros da coordenação adjunta de Pesquisa para Inovação da FAPESP – fizeram apresentações sobre os programas Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) e Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE), da FAPESP. Além da descrição geral dos programas, eles apresentaram exemplos de sucesso de projetos já financiados pela FAPESP e atenderam startups interessadas.

inovaBra habitat
www.inovabra.com.br/habitat
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