Um sensor de luz que, fixo no dedo, identifica as alterações de cor do sangue pela diminuição de hemoglobina saturada de oxigênio (foto: Biologix)

Internet das Coisas auxilia o diagnóstico e monitoramento da apneia do sono

30 de outubro de 2018

Suzel Tunes  |  Pesquisa para Inovação - O engenheiro eletrônico Tácito Mistrorigo de Almeida buscou a ajuda do pneumologista Geraldo Lorenzi Filho, especialista em Medicina do Sono, com uma necessidade e um plano: realizar um tratamento de apneia (paradas respiratórias durante o sono) e colocar no mercado uma nova tecnologia para o monitoramento remoto dessa doença crônica. “Eu ficava inconformado por ter que fazer polissonografia, o exame tradicional para o monitoramento da apneia do sono”, relata o engenheiro. “Para fazer esse exame, é preciso dormir uma noite no hospital com vários eletrodos presos ao corpo. É um exame caro, desconfortável e difícil de marcar, com filas para agendamento.”

Lorenzi, diretor do Laboratório do Sono do InCor, Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP), tratou do paciente e acolheu a ideia de desenvolver um sistema de monitoramento de apneia do sono. Dessa parceria nasceu a healthtech Biologix, criada em 2015, com sede em São Paulo.

O sistema é composto por um sensor portátil que registra e envia para uma plataforma em nuvem dados do paciente, enquanto ele dorme em sua própria casa. O sistema gera um relatório que fica acessível ao paciente por meio de um aplicativo de smartphone e pode ser compartilhado diretamente com o médico.

O sistema, que está pronto para a comercialização, utiliza o aplicativo Biologix e sensor sem fio Oxistar, desenvolvidos pela empresa. “Em setembro emitimos as primeiras faturas”, anuncia Tácito de Almeida, que já tem contrato firmado com uma rede de laboratórios cujo objetivo é oferecer o exame na lista de check-up de seus clientes.

“Nosso modelo de negócio baseia-se na venda do serviço, não do produto”, explica Almeida. Por isso, além de consultórios médicos e laboratórios, a Biologix também acredita que departamentos de recursos humanos de empresas também são potenciais clientes, já que o exame pode ser considerado prevenção contra absenteísmo e acidentes de trabalho provocados pela doença.

Em agosto deste ano, a Biologix obteve apoio do Programa PIPE/PAPPE Subvenção, que reúne recursos dos programas Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP e de Apoio à Pesquisa em Empresas (PAPPE), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), para a inserção de um produto inovador no mercado. “Esse apoio tem sido fundamental. Permitiu, por exemplo, realizar a contratação de um gerente comercial”, diz Almeida.

Doentes sem diagnóstico

Segundo um estudo publicado em 2010 na revista Sleep Medicine por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), de cada 10 adultos cerca de três sofrem com a chamada Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS). Doença crônica e progressiva, ela é caracterizada pela interrupção ou diminuição momentânea da respiração, em vários episódios durante a noite, o que impacta diretamente a qualidade do sono do paciente e pode levar a problemas cardiovasculares. A deficiência na oxigenação durante o sono aumenta, por exemplo, os riscos de infarto e acidentes vasculares cerebrais.

A apneia do sono tem tratamento. Mas estudos apontam que ela é subdiagnosticada; estima-se que cerca de 90% dos apneicos não sabem que têm a doença. Popularizar o diagnóstico, por meio de um procedimento mais simples e econômico, é o objetivo da Biologix. Segundo Almeida, o preço de uma polissonografia nos laboratórios pode ultrapassar os R$ 2.500. O preço do exame da Biologix é de 10 a 15% do preço da polissonografia, com a possibilidade de que ele seja realizado por duas noites, para confirmação do diagnóstico.

O diagnóstico é baseado na análise da oxigenação do sangue do paciente durante o sono. “Em um episódio de apneia, ocorre um bloqueio das vias aéreas superiores, impedindo a passagem de ar e diminuindo a oxigenação sanguínea. O sistema da Biologix utiliza um oxímetro, que detecta quantos eventos de queda de oxigenação ocorrem por hora”, explica Almeida.

O dispositivo tem um sensor de luz que, fixo no dedo, identifica as alterações de cor do sangue pela diminuição de hemoglobina saturada de oxigênio. “Uma queda de 3% do nível de oxigenação sanguínea já indica a ocorrência de apneia. Nos casos mais graves, a oxigenação chega a cair 25%. E isso várias vezes por noite”, afirma o empresário.

Almeida explica que o oxímetro é uma forma não invasiva para medição da oxigenação sanguínea bastante utilizada em ambientes hospitalares, nos quais o dispositivo fica ligado por meio de fios a um monitor ao lado da cama. Já o sensor Oxistar transmite os dados por meio de Bluetooth ao aplicativo Biologix, instalado no smartphone do paciente, dispensando a necessidade de fios. O dispositivo traz, também, um sensor de actigrafia, que avalia os movimentos e permite identificar, com precisão em torno de 80%, se o paciente está dormindo ou acordado.

Segundo o empresário, o sistema da Biologix é inovador tanto no mercado nacional como internacional. “Existem alguns modelos de oxímetros portáteis, mas eles não são adequados para o uso contínuo e não têm o tempo de resposta e a resolução necessários para esta finalidade”, afirma.

Validação no Incor

O sensor Oxistar já obteve cadastro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, como utiliza transmissão por Bluetooth, também da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Também já passou por um processo de validação no Instituto do Coração (InCor). Foram comparados os resultados de 332 exames tradicionais de polissonografia com o sistema desenvolvido pela Biologix. “Até o momento, analisamos os dados de 219 pacientes e estes dados mostram que a solução da Biologix possui sensibilidade e especificidade de 91% e 83%, respectivamente, no diagnóstico da apneia moderada a grave”, diz Almeida.

Em maio deste ano, esses dados foram apresentados na conferência internacional da American Thoracic Society, realizada em San Diego, Califórnia. Em outubro, a healthtech foi uma das 27 empresas preliminarmente selecionadas para avaliação presencial da segunda etapa de avaliação do Finep Startup – Programa de Investimento em Startups Inovadoras –, que investirá cerca de R$ 1 milhão em cada uma. Enquanto aguarda o resultado os resultados finais do edital, o empresário segue buscando parceiros comerciais e fazendo planos para o aprimoramento da ferramenta. “Estamos desenvolvendo um novo recurso para gravar o áudio do ronco no celular. O sistema utilizará tecnologia de machine learning para identificação do som, o que contribuirá para o diagnóstico. Esse novo recurso deve estar pronto no começo de 2019.”

Biologix 
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