
Dispositivo brasileiro faz diagnóstico inovador de infarto
15 de julho de 2025Roseli Andrion | Pesquisa para Inovação – Raul de Macedo Queixada tinha 25 anos quando, em 2016, deu entrada na emergência de um hospital com dores no peito. Lá descobriu que poderia se tratar de um infarto do coração provocado por estresse e ansiedade. O diagnóstico, porém, só foi confirmado mais de cinco horas depois, com os primeiros resultados de exames.
Engenheiro mecatrônico que atua no segmento de dispositivos médicos desde 2012, Queixada identificou ali um problema crítico no sistema de saúde. “Fui para o hospital com dor no peito, passei pelo atendimento, a equipe de saúde coletou exames para avaliar a possibilidade de um infarto do coração e fiquei cerca de cinco horas esperando pelas primeiras informações”, lembra. “Só recebi alta depois de oito horas em observação.”
A partir dessa experiência, Queixada iniciou um estudo independente que, posteriormente, transformou-se em uma pesquisa de mestrado em engenharia biomédica. “Com a visão de engenheiro, pensei: não é possível que uma doença tão aguda e que mata com tanta frequência demore tanto tempo para ser diagnosticada num serviço de emergência.” Após resultados preliminares promissores, ele fundou a startup Cor.Sync e obteve apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP.
Os diferenciais da tecnologia da Cor.Sync são a abordagem e a rapidez. Segundo Queixada, a solução detecta a troponina cardíaca (o biomarcador de referência para infarto) em tempo muito inferior ao dos exames de sangue laboratoriais. “Em laboratório, esse exame leva de uma a cinco horas para ficar pronto. Nós o fazemos em oito minutos, com a mesma precisão”, afirma. Enzyme-Linked Immunosorbent Assay, Elisa). “A Cor.Sync criou um teste rápido ‘point of care’, com coeficiente de variação de cerca de 6% de erro, de acordo com testes preliminares. Esse é o mesmo erro do teste laboratorial”, explica. “Point of care” (POC) ou “point of care testing” (POCT) é o termo usualmente empregado para um exame diagnóstico feito no local e momento do atendimento de um paciente – por exemplo, à beira do leito hospitalar –, sem necessidade de envio de amostras a um laboratório.
Alta precisão
O pesquisador lembra que os testes rápidos existentes atualmente para detecção de infarto têm precisão baixa. “Hoje existem os exames com precisão diagnóstica, que demoram, e os testes rápidos, que não oferecem precisão e, muitas vezes, exigem exames adicionais ou induzem a diagnósticos errados. A grande revolução é que conseguimos o melhor dos dois mundos pela primeira vez: desenvolvemos o primeiro ‘point of care’ com precisão diagnóstica.”
Queixada explica que o infarto é um evento agudo com sintomas e apresentações clínicas muito variadas e que, muitas vezes, inclui oclusão arterial – ou seja, entupimento de artéria –, o que, a depender da gravidade, pode levar a óbito em horas ou dias, mas, na maioria dos casos, não instantaneamente. “Com a oclusão arterial, o miocárdio, o músculo do coração, para de receber sangue e oxigênio nas quantidades necessárias para que funcione corretamente. Se esse quadro persiste ou se agrava, o coração pode tornar-se fraco – o que resulta em insuficiência cardíaca – ou até causar a morte do paciente.”
O dado mais alarmante, de acordo com o pesquisador, é que 62% desses falecimentos no Brasil acontecem dentro de hospitais, o que representa aproximadamente 120 mil pessoas por ano. “O indivíduo sente os sintomas e vai até o hospital, mas, pela demora no diagnóstico de infarto do coração, não recebe o tratamento correto em tempo adequado. Nesses casos, a gente pode ajudar.”
O nome da startup reflete a essência desse propósito. “‘Cor’ é ‘coração’ em latim e ‘sync’ vem de ‘sincronia’, já que o teste é rápido e condizente com o tempo requerido pelo organismo”, explica Queixada. “Estamos em sincronia com o tempo que o coração precisa.”
Plataforma de diagnóstico
A solução da Cor.Sync é composta por um dispositivo físico e um software que interpreta o resultado do exame de sangue em conjunto com os dados clínicos do paciente. O algoritmo emula a experiência de um cardiologista especializado e as particularidades do paciente, como o fato de que mulheres frequentemente apresentam sintomas diferentes de infarto e níveis distintos de troponina. “Isso é crucial porque nem todo serviço de saúde tem um cardiologista experiente disponível 24 horas por dia”, destaca o pesquisador. “Muitas vezes, o paciente é atendido por um médico residente, um profissional de outra especialidade ou um generalista, que não tem toda a experiência de um cardiologista.”
Atualmente, a Cor.Sync se dedica ao diagnóstico de infarto do coração, mas a tecnologia desenvolvida pela empresa pode ser usada para outros exames. “Criamos uma plataforma de diagnóstico e esse mesmo método pode ser aplicado para outros exames de biomarcador ou patógeno. Temos um roadmap para o desenvolvimento de outros testes e devemos ter um portfólio diversificado em breve.”
Estudos clínicos
O dispositivo está em fase final de estudos pré-clínicos e a equipe se prepara para iniciar os estudos clínicos – uma etapa obrigatória para dispositivos médicos de diagnóstico in vitro. Nessa fase, os resultados obtidos com o dispositivo serão comparados com os do padrão ouro atual (os testes laboratoriais). “Ainda não temos o produto pronto para venda nem aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa]. A expectativa é que, ainda neste ano, sejam iniciados os estudos clínicos e, no ano que vem, o teste possa ser comercializado.”
Além do óbvio benefício de salvar vidas, a tecnologia da Cor.Sync tem potencial de garantir economia significativa para os sistemas de saúde, já que indivíduos que sofrem infartos do coração e desenvolvem insuficiência cardíaca representam alto custo contínuo. “Para o Sistema Único de Saúde [SUS] e os planos de saúde, esses pacientes são caríssimos porque necessitam de acompanhamento multiprofissional periódico e, não raro, necessitam de reinternações hospitalares”, observa Queixada.
Dessa forma, um diagnóstico mais rápido e mais preciso possibilita a redução da extensão da insuficiência cardíaca resultante do infarto do coração. Isso melhora a qualidade de vida do paciente, além de reduzir os custos financeiros e sociais decorrentes de tratamentos de longo prazo.
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