Um estudo publicado no The Lancet Discovery Science demonstrou que o teste foi capaz de evitar quase 75% de cirurgias desnecessárias (foto: Onkos)

Teste molecular evita cirurgias desnecessárias de tireoide

01 de julho de 2025

Elton Alisson  |  Pesquisa para Inovação – Um exame diagnóstico de alta precisão para identificar e classificar nódulos de tireoide, desenvolvido por uma startup em Ribeirão Preto, no interior paulista, tem contribuído para evitar que pacientes com suspeita de câncer na glândula endócrina sejam submetidos a cirurgias e procedimentos desnecessários.

Disponível no mercado desde 2018 e já comercializado em mais de 30 países, o teste criado pela Onkos permite diferenciar nódulos benignos de malignos por meio de análises moleculares combinadas com ferramentas de inteligência artificial.

O exame molecular, batizado mir-THYpe, desenvolvido com apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP, utiliza biomarcadores para confirmar ou descartar a presença de câncer em nódulos da tireoide que apresentam resultados indeterminados.

De acordo com Marcos Tadeu dos Santos, fundador da empresa, a grande maioria dos nódulos é benigna, mas até 30% deles são classificados como “indeterminados”. Nesses casos, por segurança, o procedimento padrão é a cirurgia para extração da tireoide. No entanto, apenas 25% dos casos são malignos, o que significa que 75% das cirurgias em casos de nódulos indeterminados são potencialmente desnecessárias.

“Em alguns pontos da jornada do paciente oncológico ele se depara com o que chamamos de incertezas diagnósticas, que o induzem a ser submetido a procedimentos, cirurgias e tratamentos desnecessários. Identificamos algumas dessas lacunas e planejamos o desenvolvimento de exames diagnósticos usando biologia molecular e inteligência artificial para resolver o problema desses pacientes”, diz Santos.

Um estudo publicado no The Lancet Discovery Science demonstrou que o teste foi capaz de evitar quase 75% de cirurgias desnecessárias. “Estimamos que o teste já evitou a realização de pelo menos 4 mil cirurgias desnecessárias de retirada da glândula endócrina de pacientes com nódulos indeterminados, o que gerou uma economia de mais de R$ 7 milhões à saúde suplementar”, sublinha Santos.

Diferenciais competitivos

De acordo com o pesquisador, existem atualmente três tecnologias concorrentes do teste oferecido pela Onkos, desenvolvidas nos Estados Unidos. Um dos diferenciais competitivos do exame brasileiro, contudo, é o custo – um terço a um quarto dos valores praticados pelos competidores estrangeiros.

Outra vantagem do mir-THYpe é a dispensa da necessidade de refrigeração da amostra do tecido do nódulo para ser analisada. “Por essa razão, conseguimos trazer amostras de qualquer lugar do mundo para Ribeirão Preto e realizar os testes aqui”, afirma Santos.

Além disso, não é preciso que o paciente faça uma nova biópsia para realização do teste. “Para os outros testes, o paciente precisa voltar ao laboratório e fazer uma nova biópsia quando o nódulo é classificado como indeterminado”, compara.

A Europa é considerada um mercado promissor para o teste, uma vez que a European Thyroid Association (ETA) publicou uma recomendação oficial em 2024 para o uso de testes moleculares para definir o diagnóstico de nódulos de tireoide classificados como indeterminados, como o desenvolvido pela Onkos. Contudo, a solução ainda não está disponível no continente europeu.

“Por isso que estamos olhando muito para o mercado europeu agora, porque há uma demanda. Mas há uma série de aspectos regulatórios que precisamos transpor”, pondera Santos. A empresa vem conduzindo estudos clínicos do teste em países como a Inglaterra e a Espanha para validação do uso da tecnologia na população europeia.

De acordo com o pesquisador, a Onkos acabou de receber a acreditação do College of American Pathologists (CAP), selo de qualidade e excelência laboratorial mais rigoroso e importante do mundo, concedido a apenas outros sete laboratórios brasileiros. “Isso mostra que estamos no caminho certo.”

“É preciso que outras deeptechs [startups de base científica e tecnológica] também façam esse movimento de internacionalização, que aprendam o caminho das pedras e possam voltar e ensinar os demais para que esse fluxo seja maior. Queremos parar de enviar soja e trazer iPhone do exterior”, diz Santos.