Drones agilizam realização de inventário florestal
28 de janeiro de 2025Elton Alisson | Pesquisa para Inovação – Para planejar a produção de uma linha de cosméticos à base de tucumã, os engenheiros da Natura precisavam esperar nove meses para obter os dados necessários. Isso porque o censo florestal dos tucumanzeiros (Astrocaryum vulgare) era realizado presencialmente por uma equipe de 16 pessoas vinculadas a comunidades extrativistas que tinham que percorrer 1,2 mil hectares de uma região da floresta para mapear as palmeiras viáveis para o fornecimento do fruto amazônico, levando em conta todas as práticas de manejo sustentável.
“Essa equipe de 16 pessoas, de sete comunidades extrativistas com as quais trabalhamos, visitava 300 agricultores da região e, só nove meses depois, com base nos dados coletados, era possível estimarmos o fornecimento de mil toneladas do fruto, por exemplo. Isso parece ser bastante, mas não é suficiente para o volume de produção da linha de cosméticos à base do tucumã, que hoje é um dos nossos principais ativos. Esperar quase um ano para saber o potencial produtivo desse fruto passou a ser um grande gargalo”, disse Rômulo Zamberlan, diretor de pesquisa avançada da Natura, em palestra durante o Deep Tech Summit, que aconteceu em novembro de 2024, em São Paulo.
A fim de superar esse obstáculo e conseguir planejar suas cadeias de fornecimento de ativos usados na produção de cosméticos em menor tempo, a empresa se associou à Bioverse, uma startup paulista que mapeia a cobertura florestal e a prevalência de espécies.
Por meio da tecnologia desenvolvida pela deep tech, que emprega drone para capturar imagens e inteligência artificial para identificar e localizar, de forma automatizada, espécies de interesse para melhorar a eficiência na coleta, a empresa conseguiu realizar, em um semestre, o inventário florestal de seis espécies-chave em sua cadeia produtiva, distribuídas ao longo de 40 mil hectares da floresta.
“Foi possível identificar as árvores dessas espécies de interesse ao longo de 400 quilômetros quadrados [km²]. Essa área equivale, aproximadamente, a um terço da extensão do município de Irituia, no Pará. Para fazer esse mapeamento pelo método tradicional, com o nível de detalhe dessa tecnologia, demoraríamos 25 anos”, comparou Zamberlan.
De acordo com o executivo, todos os dados obtidos por meio do inventário digital foram disponibilizados para cooperativas extrativistas, com o objetivo de poderem planejar melhor a produção de ativos amazônicos. “A partir desses dados, as cooperativas podem planejar quais as potenciais áreas para a produção de açaí ou de tucumã, por exemplo. Isso torna o processo mais eficiente para as próprias comunidades extrativistas”, avalia.
Além de permitir calibrar melhor as estimativas de produtividade, os dados obtidos por meio da tecnologia de inventário florestal digital podem ser empregados para avaliar estoques de carbono, quantificar o valor da floresta e apoiar planos de regeneração florestal, avalia o executivo.
“Essa tecnologia permite mapear milhares de árvores e, dessa forma, é possível quantificar o valor da floresta em pé”, afirma.
Drones VTOL
O inventário florestal digital ainda não pode ser feito por satélites em razão de a floresta amazônica ser coberta por nuvens durante sete meses do ano. Além disso, a Amazônia é composta por mais de 4 bilhões de árvores, com uma grande variedade de espécies, explicou Zamberlan.
Para driblar essas limitações, a Bioverse passou a utilizar drones fabricados por outra startup paulista, a XMobots, de São Carlos.
Apoiada pelo Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), a empresa, que tem a Embraer entre seus acionistas, é especializada no desenvolvimento e fabricação de drones VTOL (vertical de decolagem e aterrissagem) de alto desempenho e de tecnologias correlatas, como sensores multiespectrais, sensores optrônicos giroestabilizados, softwares de análise de dados baseados em inteligência artificial, plataforma provedora de serviços com drones, entre outras (leia mais em https://pesquisaparainovacao.fapesp.br/11).
Um dos drones fabricados pela empresa e utilizado pela Bioverse para fazer inventário florestal e identificar espécies de interesse da Natura é o Nauru 500C.
“Ele é, basicamente, um avião de pequeno porte, não tripulado, que sobe como um drone e faz voo de cruzeiro como um avião normal, com alcance de centenas de quilômetros”, diz Zamberlan.
As imagens obtidas pelo drone são analisadas por um sistema baseado em inteligência artificial desenvolvido pela Bioverse que identifica a espécie de árvore e fornece as coordenadas geográficas. Com base nessas informações, as equipes vão a campo para validar os dados.
“O sistema já apresenta uma acurácia de mais de 90% na identificação das espécies”, afirma Zamberlan.
Segundo o executivo, a Natura mantém hoje dois centros de inovação, sendo um em Cajamar, na região metropolitana de São Paulo, e outro no Pará, intitulado Centro de Inovação da Amazônia. Nos dois centros trabalham, aproximadamente, 300 pesquisadores, com formação em áreas como engenharia, agronomia, química, farmácia e ciência de dados, entre outros.
“Além desse contingente de pesquisadores, contamos com uma rede muito grande de colaboração nacional e internacional. A maior parte dos projetos que realizamos é em parceria, seja com institutos de ciência e tecnologia ou com startups e pequenas e grandes empresas”, afirmou.
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