Minúsculos “berçários” (foto) para ovos de pragas agrícolas podem acelerar o desenvolvimento de formas mais eficazes de combate a esses organismos

Empresa produz insetos para pesquisa agropecuária

21 de março de 2017

Por paradoxal que pareça, minúsculos “berçários” para ovos de pragas agrícolas – feitos para diminuir a mortalidade precoce desses insetos – podem ser a chave para reduzir em até 50% os custos das pesquisas e acelerar o desenvolvimento de formas mais eficazes de combate a esses organismos, responsáveis por enormes prejuízos na agricultura.

Essa foi a conclusão da Fase 1 de um projeto realizado com apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP pela Pragas.com – nome fantasia da CL Empreendimentos Biológicos Ltda –, uma jovem empresa sediada na incubadora tecnológica da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba. A startup é especializada na produção de insetos para pesquisas agropecuárias.

“A ideia da Pragas.com surgiu há oito anos quando, ainda no mestrado, tínhamos enormes dificuldades em viabilizar experimentos em campo: era necessário localizar áreas com a ocorrência natural da praga que estávamos estudando e muitas vezes não as encontrávamos, o que atrasava a pesquisa em alguns anos. E quando encontrávamos, as áreas eram distantes, muitas vezes com baixa infestação ou muito desuniformes” explica Cristiane Tibola, engenheira agrônoma, doutoranda em entomologia na Esalq/USP e sócia-fundadora da Pragas.com.

Um dos maiores problemas para os testes com novas formas de combate às pragas – sejam agroquímicos, controle biológico ou variedades geneticamente modificadas – é a necessidade de os cientistas utilizarem uma área adequadamente infestada com o organismo-alvo, ou seja, onde ele esteja presente de forma relativamente uniforme e numa concentração adequada para os testes. No mundo real, porém, cada uma das espécies de insetos-praga geralmente só ataca as plantações durante poucos meses por ano, quando as condições climáticas lhe são favoráveis. Para não interromper a pesquisa no restante do ano, é preciso produzir esses insetos em laboratório para liberá-los controladamente nas áreas de teste.

Essa infestação artificial, no entanto, com as atuais metodologias disponíveis é trabalhosa, cara e com baixa eficiência, já que os insetos ficam expostos à chuva, ao sol, vento e inimigos naturais e, em geral, 80% não sobrevivem. O processo exige muita mão de obra e, em função da elevada mortandade, na média apenas uma de cada cinco tentativas de infestação artificial resulta em áreas de testes viáveis. Isso encarece e atrasa as pesquisas.

Por isso, a Pragas.com, que começou apenas fornecendo insetos para pesquisadores, teve que inovar e desenvolver uma nova tecnologia que melhorasse a eficácia do processo de infestação quando a demanda cresceu. Apostou num dispositivo que simplifica a aplicação dos organismos-alvo nas áreas de teste, ao mesmo tempo em que protege os insetos em sua fase mais vulnerável, a de larvas.

Trata-se de diminutas caixas de 2,5cm x 2,0cm, produzidas com material biodegradável, autoadesivas, que grudam nas folhas abrigando em seu interior de 10 a 100 ovos do inseto-alvo, imitando o que ocorre na natureza. Quando atingem o tamanho certo, as próprias larvas abrem seu caminho para o exterior devorando a parte da folha que cobre a saída do “berçário”.

Simples, porém inovador, o dispositivo – batizado de Eggsbox – diminuiu em 70% a mortalidade dos insetos, o que, segundo a estimativa do estudo, deverá reduzir entre 30% e 50% os custos das pesquisas com experimentos em campo.

Nos nove meses da Fase 1 do projeto aprovado pelo PIPE, a Pragas.com desenvolveu mais de 30 protótipos desses dispositivos, com diferentes formas, materiais e adesivos. Oito modelos selecionados no laboratório foram testados em casas de vegetação e no campo, em áreas plantadas com soja, milho e algodão, usando as quatro espécies de lepidópteros que são as principais pragas dessas culturas: Spodoptera eridania, Spodoptera frugiperda, Spodoptera cosmioides e Helicoverpa armigera. Esta última, recentemente detectada no Brasil, ataca diversas culturas e vem causando grandes prejuízos. Já a Spodoptera frugiperda preocupa por ter demonstrado resistência a variedades de milho geneticamente modificado.

Em prosseguimento à pesquisa, a empresa pretende ampliar o leque de espécies de insetos e culturas testadas para desenvolver “berçários” sob medida para cada uma; testar as estratégias para produção do Eggsbox em escala comercial e desenvolver o marketing do produto com vistas, inclusive, à conquista do mercado internacional, já que a pesquisa trabalha com pragas que são problema no mundo todo, e a comercialização do dispositivo sem os ovos não enfrenta em barreiras sanitárias.

A Pragas.com já negocia, inclusive, parcerias com duas empresas brasileiras e uma norte-americana, todas do setor de pesquisa agrícola, interessadas em licenciar a tecnologia.

“Estamos em busca de investidores-cotistas, pessoas do setor agrícola ou de outras áreas que tragam não só recursos financeiros, mas as competências complementares que serão necessárias para apoiar o crescimento acelerado que o negócio tende a ter”, explica Tibola.

O otimismo tem fundamento. Criada em outubro de 2014, a empresa levou 11 meses para se estruturar e montar a equipe para começar a produzir e comercializar insetos. Hoje com uma equipe de apenas 10 pessoas e menos de um ano e meio depois de colocar seus primeiros produtos no mercado, a companhia já tem mais de 50 clientes, incluindo não só unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e as principais universidades que se dedicam à pesquisa agropecuária, como também pequenas e grandes empresas nacionais e multinacionais que atuam nessa área. Ainda este ano, a Pragas.com pretende ampliar seu portfólio de organismos-alvo que disponibiliza para pesquisas agrícolas.

Empresa: Pragas.com (nome fantasia da CL Empreendimentos Biológicos Ltda)
Site: pragas.com.vc
e-mail: contato@pragas.com.vc
Telefone: (11) 3413-0026