Startup paulista desenvolve fórmula inédita para combate de doença em citros

21 de julho de 2020

Uma pesquisa desenvolvida nos laboratórios do Centro de Citricultura do Instituto Agronômico (IAC) em Cordeirópolis, no interior de São Paulo, resultou em uma fórmula para o controle do greening, doença que prejudica severamente a citricultura, no Brasil e no mundo.

A pesquisa culminou em um produto inédito, comercializado sob a forma de um fertilizante pela CiaCamp – a primeira startup do IAC, apoiada pelo Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).

Foi no IAC que a pesquisadora Simone Cristina Picchi, fundadora da CiaCamp, situada em Araras, encontrou respaldo técnico e um espaço compartilhado para crescer e se desenvolver de maneira mais rápida e colaborativa.

O estudo no IAC, sob a liderança da pesquisadora Alessandra Alves de Souza, resultou na utilização do conhecido princípio ativo, que se mostrou mais eficaz: o N-acetilcisteína (NAC) – uma substância usada tanto como expectorante, como também suplemento alimentar para humanos, por ser um eficiente antioxidante.

Picchi, que integrou o grupo de pesquisas do IAC sobre o entendimento do mecanismo da patogenicidade das bactérias Xylella fastidiosa e Xanthomonas citri, relatou a ação da molécula NAC na neutralização das colônias bacterianas causadoras das doenças amarelinho e também do cancro cítrico.

Os primeiros experimentos do NAC agrícola foram realizados para controle do amarelinho e cancro cítrico em pomares paulistas, cujos resultados foram por demais animadores, feitos em estágio adiantado da doença.

A equipe de pesquisadores do IAC, liderada pelo pesquisador Helvécio Della Coletta-Filho, verificou uma redução na incidência do amarelinho, provocando aumento da produtividade – em quantidade e diâmetro dos frutos – inclusive nas laranjeiras sadias.

Esses resultados positivos animaram Picchi a se dedicar e acelerar o desenvolvimento de formulações para o manejo do greening, que trouxeram elevados benefícios ao processo de controle dessa doença.

O sucesso do NAC ensejou que a CiaCamp viesse, por meio de licenciamento exclusivo, a deter direitos de introdução da tecnologia NAC na agricultura, patenteada pelo IAC.

Parceria comercial

Para comercializar a tecnologia, a startup fez uma parceria com a empresa Amazon AgroSciences, de São Carlos, para produzir e comercializar o NAC como fertilizante sob a marca Granblack, disponível no mercado desde setembro de 2019.

Embora o foco inicial seja o controle do greening, a empresa já estuda a viabilidade de aplicação da tecnologia, em formulações diferentes, na eliminação do cancro cítrico nas plantações do Sudeste/Sul e no amarelinho nos pomares do Nordeste.

Outras culturas – como milho, ameixa, uva e tabaco – também já estão recebendo, em formulações diversas, aplicações bem-sucedidas do fertilizante desenvolvido pela parceria CiaCamp e Amazon AgroSciences.

Em forma de fertilizante líquido, aplicado no solo ou nas folhas, o princípio ativo é levado até as bactérias, onde exerce a função de “desentupidor” da planta, permitindo que ela desbloqueie os vasos e volte a absorver plenamente os nutrientes e, com isso, retorne ao seu ciclo sadio de desenvolvimento.

Além de controlar o greening, o fertilizante pode evitar agressões de origem ambiental, como calor, radiação ultravioleta e estresse hídrico, devido à sua ação antioxidante.

Por ser sustentável, o produto evita a geração de resíduos e seus impactos ambientais. Pode, também, ser aplicado em associação com defensivos tradicionais.

A tecnologia possibilita uma expressiva queda da severidade do greening, que, no Brasil, afeta 18% dos estimados mais de 200 milhões de pés de laranja e outros citros cultivados nas principais regiões produtoras – São Paulo, Minas Gerais e Paraná.

De acordo com o Fundecitrus, o índice de quebra na produção da cultura na safra brasileira 2017-2018 foi de 17%, sendo que 60% dessa quebra foi resultante da ação de doenças.

O Brasil é o maior produtor mundial de suco de laranja, atendendo 80% da demanda. As exportações somaram, em 2019, quase US$ 2 bilhões.