As cabanas de proteção radiológica são uma espécie de bunker que blinda fisicamente as áreas por onde os feixes de luz síncrotron circulam (Foto: CNPEM)

Tecnologia desenvolvida para Sirius amplia mercado da Biotec

21 de janeiro de 2020

Eduardo Geraque  |  Pesquisa para Inovação – A Biotec Solução Ambiental, em São José dos Campos, é responsável pelo fornecimento de cabanas de proteção radiológica para o Projeto Sirius, a nova fonte de luz síncrotron brasileira, no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, que entrará em operação ainda este ano.

Em 2015, a empresa – que até então desenvolvia projetos de salas limpas para a indústria farmacêutica e biotérios para centros de pesquisa – teve seu projeto aprovado na segunda chamada de proposta da FAPESP e da Empresa Brasileira de Inovação e Pesquisa (Finep), para a seleção de empresas fornecedores de componentes para o Sirius.

Para encarar o desafio, entre 2015 e 2016, a equipe da Biotec circulou por seis nações da Europa (Espanha, França, Inglaterra, Suíça, Alemanha e Suécia) com o objetivo de investigar como os laboratórios de metrologia e as cabanas dos grandes aceleradores de partículas operavam. “O sucesso do projeto das cabanas passou a depender da construção do protótipo. Se ele falhasse, a decisão estava tomada. Seria tudo importado da Europa”, explica Luciano Foianesi, diretor da Biotec.

Parte da equipe instalou-se no CNPEM por um período de nove meses, enquanto testava, junto com os pesquisadores responsáveis pelo projeto Sirius, cerca de 20 protótipos até a escolha definitiva do tipo de cabana a ser instalada na Linha de Luz Ema (Extreme condition x-ray Methods of Analysis), que será utilizada no estudo de materiais em situação de pressões extremas, o que requer um elevado fluxo de fótons.

As cabanas de proteção radiológica são uma espécie de bunker que blinda fisicamente as áreas por onde os feixes de luz síncrotron circulam. Nestes locais, as paredes precisam ser espessas, entre 6 milímetros (mm) e 127 mm dependendo do caso, para que a energia emitida pelas fontes de luz em direção aos objetos a serem analisados não vaze. “A radiação usada nas pesquisas, se não for bem protegida, afetará tanto a saúde dos pesquisadores e funcionários do Sirius quanto a própria eficiência das análises que serão realizadas”, explica Foianesi.

“Trata-se de um projeto que exigiu um computador robusto para rodar a montagem de 37 mil componentes”, afirma Moisés Costa, diretor de engenharia da Biotec. Das nove cabanas encomendadas pelo CNPEM, constituídas 100% em aço, cinco foram entregues e quatro estão sendo finalizadas.

Ganho de competitividade

O desenvolvimento do projeto para o Sirius colocou a Biotec entre as seis empresas fabricantes mundiais – e a única no Brasil – a entregar uma cabana completa, incluindo todas as utilidades mecânicas e elétricas, inclusive com o sistema HVAC (Heating, Ventilation and Air Conditioning) com variação de 0,1ºC. Tendo respondido ao desafio tecnológico do CNPEM, a Biotec passou a estudar a aplicação do conhecimento adquirido em Campinas na área da saúde. A ideia, agora, é desenvolver e vender os bunkers de proteção radiológica para o tratamento contra o câncer (radioterapia) para os hospitais do setor privado e público. Por ser feito de aço e, portanto, mais leve, os desenvolvedores do projeto acreditam que o produto, quanto finalizado, terá um ganho competitivo importante.

Os bunkers de proteção atualmente utilizados em exames para o diagnóstico de cânceres, por exemplo, precisam de paredes de 2 metros de espessura, pesam 900 toneladas e demoram dois anos para ficar prontos, afirma Costa. “Por isso são sempre construídos no térreo ou subsolo e aquela região do hospital fica inutilizada para sempre”, afirma o diretor de engenharia da Biotec. No caso das novas cabanas desenvolvidas pela Biotec, se os estudos em andamento vingarem, elas poderão ser desmontadas e transportadas de uma área para outra dentro de um hospital. “Também achamos que será possível instalá-las, por exemplo, em barcos ou navios, o que permitiria a realização de exames no interior da Amazônia”, exemplifica Costa.