Pesquisadores desenvolvem métodos rápidos e de baixo custo para monitorar a qualidade do álcool gel

06 de outubro de 2020

Pesquisadores do INCT de Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA), vinculados às universidades federais de Pernambuco (UFPE) e de Viçosa (UFV), Estadual de Campinas (Unicamp) e ao Instituto de Criminalística Professor Armando Samico, da Polícia Científica de Pernambuco, desenvolveram métodos analíticos para avaliar o teor de etanol nos antissépticos recomendados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para assegurar a eficiência na eliminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2).

Os métodos foram descritos em dois artigos: um foi publicado na coleção Public Health Emergency COVID-19 Initiative, da editora Elsevier, e o outro no Journal of the Brazilian Chemical Society.

Os métodos de análises utilizados pelo grupo se baseiam no uso de espectroscopia no infravermelho (IR) e espectroscopia no infravermelho próximo (NIR). “O método baseado em espectroscopia no infravermelho requer equipamento de mais alto custo e acessórios especiais, também mais caros, para a obtenção das medidas necessárias e realização da análise do conteúdo de etanol nas amostras de álcool gel”, explica Célio Pasquini, coordenador do INCTAA. “Já os métodos baseados em espectroscopia no infravermelho próximo podem ser implementados com instrumentos portáteis e de baixo custo”, compara.

Os dois métodos produzem informações (espectro de absorbância) essencialmente da mesma natureza, associadas às características das estruturas químicas dos compostos presentes nas amostras analisadas. “Essas informações permitem acessar o teor de etanol no álcool gel, que deve estar na faixa de 62% a 71% de massa de álcool para garantir a eficácia do sanitizante e o combate efetivo ao vírus causador da COVID-19”, completa.

No caso NIR, o método desenvolvido é muito rápido – uma análise demora cerca de 2 minutos. “Aplicado diretamente na amostra, produz resultados adequados em termos de exatidão e precisão para o monitoramento da qualidade do álcool gel”, afirma.

O custo do equipamento NIR utilizado pelo grupo de pesquisadores da Unicamp e UFV é de aproximadamente US$ 1 mil. “Os instrumentos utilizados são portáteis, facilmente transportados para as análises em campo e isso constitui uma vantagem importante principalmente considerando o uso dos métodos propostos em ações de fiscalização”, explica Pasquini.

O uso da metodologia pode ajudar a reduzir fraudes na produção de antissépticos baseados no álcool para higienização das mãos e superfícies, de uso obrigatório em locais públicos, recintos comerciais e residenciais em função da pandemia de COVID-19.

“Para fazer frente à demanda, a Anvisa, assim como as agências de outros países, flexibilizou as normas para a produção dos antissépticos. Infelizmente, a ocorrência de fraudes e a produção dos antissépticos fora das especificações recomendadas acompanham o aumento da demanda, com oportunistas oferecendo produtos de baixíssima qualidade e ineficazes”, diz Pasquini.

Além da fiscalização, o controle de qualidade da produção do álcool gel exige técnicas e métodos analíticos que permitem determinar o teor de etanol em antissépticos com rapidez, exatidão e, preferencialmente, com baixo custo.

Os pesquisadores utilizaram os métodos IR e NIR para testar 75 amostras de antissépticos de diferentes produtores, a maioria na forma de gel, adquiridas no comércio de Recife, em Pernambuco, e em Viçosa, em Minas Gerais, além de produtos apreendidos pela Polícia Federal em Recife.

Em Recife, por exemplo, foram encontradas amostras com teores de etanol tão baixos como 20%. Além disso, a maior parte das 75 amostras apresentou teores de etanol inferiores ao recomendado pela Anvisa (70%), embora dentro da faixa de eficácia.

O INCTAA, com sede na Unicamp, é apoiado pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com colaboração da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).