Equipamento realiza análises químicas e físicas de frutas, grãos, azeites, leites e carnes, entre outros produtos

Empresa de São Carlos inova ao usar ressonância magnética para avaliar qualidade de alimentos

30 de maio de 2017

As aplicações – e os benefícios – da ressonância magnética nuclear (RMN) na medicina são conhecidos. A técnica tem usos diversos: é eficaz, por exemplo, no agronegócio, uma vez que permite a análise da qualidade de sementes e produtos de origem animal e vegetal. Recentemente, a RMN chegou ao varejo, agilizando a avaliação da qualidade da carne ou a escolha de uma fruta no balcão do supermercado.

A empresa FIT - Fine Instrument Technology, instalada em São Carlos (SP), desenvolveu tecnologia de RMN de baixo campo, que realiza, em segundos, análises químicas e físicas de frutas, grãos, azeites, leites e carnes, entre outros produtos. “A tecnologia é diferente da utilizada em aparelhos de uso médico”, disse Daniel Consalter, sócio da empresa.

O equipamento, com o nome de SpecFIT, utiliza RMN de baixo campo e não gera imagem: o teor de açúcar de uma fruta, por exemplo, é medido pelo “tempo de desaparecimento” do pulso de radiofrequência nela incidido, cotejado digitalmente com informações de um banco de dados que traduz essa medida na composição química de produtos.

No caso específico do SpecFIT, a empresa tem como parceira o Laboratório de Ressonância Magnética da Embrapa Instrumentação, também em São Carlos, responsável por oferecer o “gabarito” para a avaliação do alimento. A mesma tecnologia pode ser utilizada para analisar a carne bovina, oferecendo informações sobre o teor de gordura, umidade, maciez, sabor e suculência.

A FIT foi criada em 2005, em São Paulo, voltada ao comércio de equipamentos de RMN. Dois anos depois, decidiu investir na construção de equipamentos e, com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), desenvolveu a eletrônica e os controles do primeiro equipamento de RMN. “Dois anos depois, mudamos para São Carlos, o principal polo de RMN no país”, disse Consalter.

Com os controles prontos, em 2014 a empresa obteve recursos do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP para desenvolver um sistema de pequeno porte com capacidade de realizar espectroscopia e imagem por RMN tendo como principal mercado os centros de pesquisa. A primeira versão foi lançada em 2015.

“O PIPE-FAPESP contribuiu para o desenvolvimento da tecnologia da parte da imagem, já que nosso interesse era utilizar a RMN em pesquisas científicas, notadamente na análise de grãos”, afirma Consalter. A primeira versão do equipamento – que também contou com recursos do InovaCred, operada pelo Agência Desenvolve SP –, já está sendo utilizada pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e por algumas unidades da Embrapa. O segundo passo foi dado em 2016, em parceria com a Embrapa.

A FIT obteve recursos do PIPE-FAPESP para desenvolver equipamento comercial de baixo custo, transportável para realizar análises físico-químicas de produtos agrícolas e alimentares. O projeto está em andamento, tendo como pesquisador responsável André de Souza Carvalho, da FIT, e como pesquisador principal Luiz Alberto Colnago, da Embrapa.

A pesquisa deverá resultar no SpecFIT Food, equipamento com previsão de lançamento no fim de 2017 que também conta com o apoio da Finep e da Desenvolve SP. Trata-se de aparelho de RMN de baixo campo que consiste de uma antena ou sonda e uma estação de transmissão e recepção de ondas de rádio e um computador.

O aparelho de RMN envia sinal de rádio para a amostra, um alimento, por exemplo. O sinal é captado por uma antena colocada no alimento, que emite um sinal de rádio. Esse sinal é digitalizado e analisado, convertendo-se em informação sobre a qualidade do produto. “Quanto mais rápido o sinal de uma fruta desaparecer, mais doce ela será, já que o desaparecimento do sinal é proporcional à viscosidade da água dentro da fruta, que, por sua vez, depende da quantidade de açúcar”, explicou Colnago, da Embrapa.

Foi essa mesma tecnologia que a FIT utilizou no desenvolvimento de um equipamento capaz de analisar o teor de óleo de dendê e sementes, sem a necessidade de elas passarem por secagem prévia. “Usualmente, para determinar o teor de óleo nas amostras utiliza-se um método de extração que pode demorar até 48 horas e envolve o uso de solventes tóxicos e aquecimento. Com a nova tecnologia, a medida pode ser feita em até três minutos, contando o tempo de amostragem e pesagem”, diz Consalter.

A FIT tem, atualmente, 15 funcionários, além dos sócios Daniel Consalter e Silvia Azevedo, o primeiro com doutoramento em Física, e a segunda, mestre em Farmácia e com doutoramento em Energia. 

FIT - Fine Instrument Technology
Av. Romualdo Villani - Jardim Ipanema, 13563-002, São Carlos - SP
www.fitinstrument.com