15 startups dividem 110 posições de trabalho, entre elas, a MedRoom (foto), utiliza tecnologia de realidade virtual e estratégias de gamificação para o treinamento de estudantes

Incubadora de startups do Einstein planeja expansão

18 de setembro de 2018

Claudia Izique  |  Pesquisa para Inovação – A Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein planeja inaugurar no segundo semestre de 2019 mais uma unidade da Eretz bio, sua incubadora de startups na área da saúde. O novo prédio está localizado bem próximo ao Hospital Israelita Albert Einstein, no Morumbi. A primeira, instalada na unidade Vila Mariana, está em funcionamento desde novembro de 2017.

“A Eretz é mais que um coworking com café grátis”, afirma Claudio Terra, diretor de Inovação e Gestão do Conhecimento do Einstein. “Buscamos startups com impacto em saúde, com tecnologia e produto com potencial de crescimento, às quais podemos agregar valor por meio do apoio à validação científica, e com as quais possamos fazer codesenvolvimento e contribuir com mentoria. E investimos em algumas delas”, ele afirma.

A Eretz abriga, atualmente, 15 startups que dividem 110 posições de trabalho. Outras 15 são hóspedes virtuais, já que têm base de operação em outra cidade ou estado, mas mantêm um escritório avançado na incubadora, explica Terra.

A incubação dá acesso aos laboratórios de Pesquisa e de Inovação do Einstein, onde as equipes de pesquisa do hospital desenvolvem investigação de ponta tanto na parte de ciências da vida e pesquisa clínica, como na parte de tecnologia digital, em projetos ligados à inteligência artificial, big data, entre outros. “Não buscamos soluções para o Einstein, ainda que o hospital possa ser potencial usuário ou cliente. Ao estimular a inovação, o objetivo é apoiar soluções que contribuam para melhorar a saúde da população”, sublinha Terra.

Essa política de apoio a startups, iniciada há quatro anos, antecede a criação da Eretz. “Já fizemos várias chamadas de propostas e conversamos com mais de 1.200 empresas. Agora, com a Eretz, temos um espaço tangível para esse relacionamento, onde se reúnem pessoas que querem desenvolver soluções de grande impacto para a saúde.”

Mas o papel da incubadora vai além disso. “A Eretz é uma referência para os funcionários do Einstein, que aprendem a enxergar essa convivência entre startups e o hospital, e estimula o peer mentoring entre as incubadas; além de ser uma referência também para o mercado”, ele diz. A incubadora tem intensa programação de eventos gratuitos, voltados para os atores do ecossistema de inovação em saúde, em que são debatidos temas relacionados à inovação, tecnologias emergentes, venture capital, empreendedorismo, regulação do setor, entre outros. “São cerca de 10 eventos por mês. Já realizamos mais de uma centena, com média de 50 pessoas por evento”, afirma Terra.

Internacionalização de tecnologia

Entre as empresas incubadas está a Hoobox Robotics, que desenvolve tecnologia que traduz expressões faciais em comandos para controle de cadeira de rodas com o apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).

A startup está abrigada na Eretz desde o final de 2017, quando encerrou a Fase 1 do Programa da FAPESP, de teste de conceito do projeto. “O contato com a área de inovação começou um pouco antes, quando o Einstein decidiu investir na empresa”, conta Paulo Gurgel Pinheiro, CEO da Hoobox.

Além do investimento, a mentoria oferecida pela Eretz foi estratégica para que a Hoobox desse início ao processo de internacionalização, prevista em seu plano de negócio. No ano passado, a empresa foi selecionada em desafio da Johnson&Johnson para um período de incubação no JLabs Houston, no Texas, uma espécie de incubadora/aceleradora da multinacional norte-americana. “O acesso ao grupo de executivos do Einstein foi fundamental para que posicionássemos a empresa no mercado externo”, diz Pinheiro. O contrato inicial com o JLabs, de seis meses, acaba de ser renovado por tempo indeterminado.

Protótipos do kit tradutor de expressões faciais em movimentos, a ser acoplado em cadeiras de rodas, montados em Sacramento, na Califórnia, já estão sendo utilizados por 50 clientes em 13 estados norte-americanos. “E temos uma lista de espera de 200 pessoas”, ele diz. “Nos Estados Unidos não cobramos pelo kit; utilizamos o modelo de assinatura que custa US$ 300 por mês”. Há plano de trazer o kit também para o mercado brasileiro. “Ainda não sabemos exatamente qual será o modelo de negócio, já que o sistema de assinatura não parece funcionar bem no país”, ele diz (mais informações sobre a Hoobox Robotics: http://revistapesquisa.fapesp.br/2016/12/16/solucoes-para-os-cadeirantes/).

Paciente virtual

A MedRoom incubou-se na Eretz no final de 2017, quando faturava R$ 160 mil. Junto com o Einstein, a empresa utiliza tecnologia de realidade virtual e estratégias de gamificação para o treinamento de estudantes e profissionais da área de saúde. Em junho de 2018, com um faturamento acumulado de mais de R$ 700 mil, trocou o endereço físico pela incubação virtual. “Devemos dobrar esse faturamento até o final do ano”, prevê Vinícius Gusmão, cofundador da empresa.

O principal produto é um laboratório de morfologia virtual, que contou no seu desenvolvimento com grande apoio dos professores e alunos da Faculdade de Medicina do Einstein e que oferece ao aluno acesso a um “paciente inteiro”. “É possível ver até o coração batendo no peito”, diz Gusmão. O primeiro “paciente” já está pronto. Trata-se de uma mulher, batizada com o nome de Lucy, em homenagem ao fóssil de um Australopithecus afarensis, de sexo feminino, descoberto em 1974 no deserto da Etiópia. “Pensamos em dar o nome de Luzia [fóssil humano mais antigo das Américas, encontrado em 1970, em Minas Gerais], mas, como temos planos de tornar a MedRoom uma empresa global, ficamos com Lucy.”

O segundo “paciente” fica pronto em novembro. Ainda não tem nome, mas há chances de que ele se chame Max. “Pensamos em homenagear um desenvolvedor francês que publicou um artigo sobre realidade virtual num site fechado e que mudou nossas vidas”, diz Gusmão.

O uso de realidade virtual em educação inclui, além da morfologia, também o que Gusmão chama de “raciocínio clínico”, isto é, o atendimento ao paciente. “O próximo passo é utilizar as tecnologias para simular doenças, fazer diagnósticos e buscar soluções que podem incluir, por exemplo, uma drenagem toráxica virtual.”