Participaram do treinamento 21 empresas, entre elas a InCloude, responsável pelo desenvolvimento de aplicativo para a reabilitação da fala, e a Fertgel, que testa o uso de fertilizante de baixo custo (foto: Felipe Maeda/Agência FAPESP)

PIPE Empreendedor ajuda startups a conhecer melhor o mercado

10 de dezembro de 2019

Elton Alisson  |  Pesquisa para Inovação – O engenheiro Pedro Henrique de Oliveira Colombo passou por diversas sessões de fisioterapia e fonoaudiologia nos últimos anos. Graduado em 2013 em engenharia química pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), um ano depois Colombo sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) no tronco encefálico, que debilitou suas funções motora, visual e a fala.

Com base em sua experiência prévia com programação e, mais recentemente, como paciente, Colombo fundou uma startup social, batizada de InCloude, com a proposta de desenvolver uma plataforma de reabilitação assistiva baseada em tecnologias digitais como aplicativos para smartphones e dispositivos de internet das coisas (IoT): a Ter@pp.

Por meio de um projeto apoiado pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP, Colombo e o pesquisador principal da empresa, o engenheiro de controle e automação John Lennon Oliveira Couto, pretendem validar a proposta tecnológica da plataforma.

“A ideia da plataforma é potencializar os processos terapêuticos e, dessa forma, proporcionar maior bem-estar tanto aos pacientes como aos profissionais responsáveis por atendê-los”, disse Colombo.

Ao participar da 13ª edição do Programa de Treinamento em Empreendedorismo de Alta Tecnologia (PIPE Empreendedor), cujo evento de encerramento ocorreu no dia 3 de dezembro, os empreendedores puderam refinar a proposta de valor do primeiro módulo da plataforma, o aplicativo para fonoaudiólogos “Fala pra mim”.

“A plataforma Ter@pp tem vários módulos de implementação. Estamos focando em um primeiro momento no módulo voltado à reabilitação da fala porque é um problema que o Pedro [Colombo] conhece bem porque passou por sessões de fonoaudiologia por mais de dois anos”, disse Couto.

O aplicativo tem o objetivo de corrigir desvios de fala e treinar pacientes que precisam corrigir erros tônicos em palavras.

Ao acessar a ficha de um paciente por meio da plataforma, o fonoaudiólogo pode definir uma lista de palavras cujo treino precisa ser intensificado.

A pronúncia das palavras pelo paciente é comparada pelo aplicativo a uma base de dados e seu desempenho pode ser avaliado pelo profissional que o acompanha. Dessa forma, os fonoaudiólogos podem avaliar a evolução, identificar desvios fonéticos e entender melhor as reais necessidades do paciente.

“Antes de participar do PIPE Empreendedor, nossa visão sobre a aplicação do ‘Fala pra mim’ era muito restrita à experiência do Pedro, que se ressentia de não ter maior independência para fazer seus exercícios de reabilitação”, disse Couto. “Durante o treinamento, fizemos diversas entrevistas com outros pacientes e fonoaudiólogos e constatamos que essa era uma queixa comum."

Durante as entrevistas, os empreendedores também identificaram um personagem importante no processo de reabilitação, até então fora do radar: os cuidadores dos pacientes. “São os cuidadores que motivam e organizam a rotina dos pacientes”, disse Couto.

Os pesquisadores também constataram que a reabilitação da fala envolve outros problemas além da disartria, como é definida a dificuldade motora de fala.

Geralmente a disartria é acompanhada de um algum grau de afasia – uma dificuldade linguístico-cognitiva – ou problema de retenção da informação que está sendo transmitida pelo aplicativo para o paciente, observaram os empreendedores.

“Aprendemos que é preciso levar esses problemas em consideração ao digitalizar os exercícios de reabilitação de fala”, afirmou Couto.

Nova proposta de valor

Outra startup participante do programa de treinamento, a Fertgel também conseguiu durante as entrevistas definir melhor os potenciais clientes do hidrogel fertilizante de baixo custo que desenvolve projeto apoiado pelo PIPE da FAPESP.

Ao participar do curso, os pesquisadores da empresa constataram que os principais nichos de mercado para o polímero biodegradável que desenvolveram na forma de pó e grânulos, carregados com fertilizantes, estão entre produtores de soja, cana-de-açúcar, citros e café.

“Embora a tecnologia tenha potencial para ser aplicada em qualquer cultivo agrícola, as entrevistas nos ajudaram a identificar que os produtores dessas culturas são os que enfrentam maiores problemas relacionados ao controle hídrico e de nutrientes. Com base nessa observação, passaremos a focar mais neles”, disse Adriel Bortolin, pesquisador principal da empresa.

O produto é aplicado diretamente no solo. Em contato com a chuva ou por meio de sistemas de irrigação, o material é capaz de absorver até mil vezes seu peso em água e a libera junto com os nutrientes de forma controlada.

“O produto mantém um reservatório de água e nutrientes acessíveis para as plantas em períodos de estiagem ou veranico”, explicou Bortolin.

Ajustes na rota

Na avaliação de Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, promover ajustes no modelo de negócios das startups, como ocorreu com a Fertgel e a InCloude, é justamente um dos principais objetivos do PIPE Empreendedor.

“Esse treinamento tem se mostrado um componente importante do programa PIPE ao permitir que as empresas participantes possam ter um contato mais direto com o mercado, de modo a identificar potenciais clientes e parceiros”, disse Pacheco.

“Isso é fundamental para melhorar os planos de negócios e permite assegurar a perenidade dessas empresas, que é o principal objetivo do PIPE”, afirmou.

Mais informações sobre a 13ª edição do PIPE Empreendedor: www.fapesp.br/pipe/pipe_empreendedor_13/120/