Por meio de biomarcadores específicos, exame diagnóstico criado pela Onkos identifica se caroços na glândula são benignos ou malignos, reduzindo os riscos de cirurgias desnecessárias (foto: Divulgação/Onkos)

Teste classifica nódulo de tireoide com maior sensibilidade

23 de fevereiro de 2021

Eduardo Geraque  |  Pesquisa para Inovação – A empresa paulista Onkos Diagnósticos Moleculares desenvolveu um exame diagnóstico para nódulos de tireoide que promete ser mais sensível do que os testes disponíveis no mercado.

Por meio de biomarcadores específicos, o exame, desenvolvido com apoio do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), identifica se um nódulo da tireoide classificado como indeterminado pelas técnicas atuais é benigno ou maligno, reduzindo os riscos de resultados falso-positivo ou falso-negativo. Dessa forma, o exame molecular evita cirurgias desnecessárias, uma vez que até 30% dos exames feitos atualmente no Brasil sobre a presença ou não de câncer em nódulos da tireoide apresentam resultados indeterminados. Desse total de casos indefinidos até 84% são benignos, segundo dados da empresa.

“Outras vantagens do teste que desenvolvemos em comparação com outros existentes no mercado é que ele dispensa a necessidade de mais de uma punção da glândula, o que é sempre desconfortável para o paciente, e as amostras podem ser transportadas em temperatura ambiente”, diz ao Pesquisa para Inovação Marcos Tadeu dos Santos, fundador da empresa, incubada no Supera – Parque de Inovação Tecnológica de Ribeirão Preto.

O teste começou a ser desenvolvido em 2015, em parceria com o Hospital de Amor (antes conhecido como Hospital de Câncer de Barretos), e foi lançado em 2018.

Nos próximos meses, o teste poderá entrar no rol dos exames credenciados pela Agência Nacional de Saúde (ANS). Na última rodada de propostas aberta pela instituição federal, em 2018, 1,2 mil propostas foram recebidas. Na etapa mais recente, apenas 84 procedimentos permaneceram sob análise, entre eles o exame criado pela Onkos. Se aprovado, o teste passará a ser coberto pelos planos de saúde.

Outra meta da empresa é que o exame seja aprovado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Nos dois casos, haverá uma economia tanto para os planos de saúde como para o sistema público, porque cirurgias desnecessárias serão evitadas”, avalia Santos.

Enquanto a aprovação não ocorre, o acesso ao exame é feito apenas de forma particular. Cabe ao médico solicitar ao paciente, diretamente com a Onkos ou por meio de laboratórios parceiros, a realização do teste quando o resultado da punção da glândula for indeterminado.

“Todas as amostras são coletadas e enviadas para nós. Fazemos os testes por meio da nossa plataforma no nosso laboratório e enviamos o resultado”, afirma Santos.

A empresa já realizou mais de mil testes para tireoide em amostras de todas as regiões do país. Os resultados dos exames costumam voltar aos médicos que solicitaram a análise molecular detalhada em menos de 15 dias.

Diferencial científico

De acordo com Santos, o grande diferencial científico do teste é que ele permite identificar as principais assinaturas genéticas das células tumorais presentes na tireoide. A partir desses marcadores, algoritmos que utilizam inteligência artificial decifram as assinaturas moleculares do tumor e dão o resultado com alta acurácia.

A acurácia do teste, que analisa a expressão de 11 microRNAs por meio de PCR em tempo real, é de 96%. Dados de um estudo prospectivo recente feito pela empresa com mais de 435 pacientes mostraram uma redução de 75% de cirurgias desnecessárias.

“Existem hoje apenas quatro empresas no mundo que resolvem esse problema, três delas nos Estados Unidos e nós, no Brasil”, afirma Santos.

A plataforma também poderá ser adaptada no futuro para outros tipos de cânceres, como o de mama e de próstata. “Nossa estrutura logística permite atender qualquer cidade brasileira”, garante Santos.

No Brasil, estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) indicam que, entre 2020 e 2022, a média de casos diagnosticados no país por ano atingirá 13.780 novos registros de câncer de tireoide, sendo 1.830 homens e 11.950 mulheres. Em 2018, ainda de acordo com dados do Inca, morreram 566 mulheres e 271 homens por causa de complicações decorrentes de tumores na glândula tireoide.