Startups apresentam resultados de projetos desenvolvidos no Programa Centelha SP
19 de dezembro de 2023Julia Moióli | Pesquisa para Inovação – Representantes de startups paulistas que chegaram à fase final do Programa Centelha SP se reuniram, no dia 22 de novembro, na sede da FAPESP para realizar rodadas de pitching de seus projetos de inovação. O termo, em inglês, significa apresentar, de forma curta e direta, uma ideia para chamar a atenção de um apoiador ou investidor.
Nas duas rodadas de pitching realizadas durante o encontro, as startups apresentaram, em dois minutos, seus projetos – a maioria já em fase de finalização – em áreas de atuação diversificadas, como tecnologias sociais, química, inteligência artificial e biotecnologia.
“A maioria dos projetos nesta etapa já está na fase de finalização – alguns foram finalizados em novembro e outros terminam em fevereiro – e a partir do feedback recebido hoje elas têm a oportunidade de fazer algum ajuste final para que esse projeto seja bem-sucedido ou para obter melhores resultados”, disse Patrícia Tedeschi, gerente de pesquisa para inovação da FAPESP.
Uma das ideias mais bem avaliadas pelos especialistas foi a Demedia, plataforma digital baseada em tecnologias da informação e comunicação e softwares de inteligência artificial (IA) para ajudar usuários no controle e na prevenção das complicações crônicas desencadeadas pelo diabetes mellitus (DM).
Em fase de validação da tecnologia no Hospital das Forças Armadas de Brasília e de aldeias indígenas no Ceará e no Maranhão, o aplicativo funciona como um jogo eletrônico com metas, elaboradas por um modelo preditivo e alimentadas com dados do usuário (leia mais em https://pesquisaparainovacao.fapesp.br/2844).
Como recompensa, o paciente ganha moedas digitais, que podem ser convertidas em descontos em produtos e serviços, como alimentos de baixo índice glicêmico, aparelhos para medir pressão arterial e medidor de glicemia e aulas de exercícios e atividades físicas.
“Nosso foco está em diminuir o risco de complicações de diabetes – seja cegueira, amputação ou doença renal crônica, por exemplo –, além de melhorar a qualidade de vida dos pacientes que já possuem essas complicações”, explicou a engenheira de controle e automação Marcia Ferrarese de Araújo, diretora da startup. “E, como consequência, também reduzir custos com procedimentos que poderiam ser prevenidos nos sistemas de saúde.”
Além dos benefícios individuais, os dados da plataforma podem ser usados para traçar o perfil epidemiológico de uma determinada população, enriquecendo o trabalho de profissionais de saúde e a formulação de políticas públicas.
“Em termos de escalabilidade da ideia, vale ressaltar que, apesar das soluções existentes no mercado, ainda há uma estimativa de aumento do número de casos de diabetes no mundo – no Brasil, por exemplo, há 40 milhões de pré-diabéticos e isso tende a aumentar.”
Outro destaque foi a plataforma de liberação de fármacos Melox, da 3D Pharma, startup instalada na Incubadora de Araraquara que atua nas áreas farmacêutica, cosmética, nutricional, odontológica e veterinária. Trata-se de um biochip medicamentoso obtido por impressão 3D para administração subcutânea de uma dose única de anti-inflamatório, com liberação prolongada em pets (cães e gatos).
“Nosso objetivo é proporcionar eficácia terapêutica e redução do estresse na hora de medicar animais de pequeno porte”, contou Juliana Cordeiro Cardoso, sócia da empresa.
Outras vantagens do implante são ser feito de material biodegradável e ser totalmente reabsorvível pelo organismo dos animais, sem risco de causar danos à saúde, afirmam os representantes da empresa.
Estímulo ao empreendedorismo tecnológico
O Programa Centelha é uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), a Fundação Certi e, em São Paulo, a FAPESP, que tem como missão estimular o empreendedorismo inovador e disseminar essa cultura entre jovens.
Até chegar à etapa de pitching, os participantes do Programa Centelha participaram de uma jornada de mais de um ano de duração para transformar suas ideias inovadoras em empresas de sucesso. Foram, ao todo, três fases de “peneira”, com mentorias e workshops ministrados por especialistas da FAPESP do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de São Paulo e da Associação Brasileira de Startups, com suporte e feedback dos avaliadores e aporte de recursos para garantir uma rede de segurança que deve chegar a R$ 5 milhões em cinco anos.
“As capacitações oferecidas envolveram temas como empreendedorismo, projetos de pesquisa, captação de recursos e planos de negócios”, contou Tedeschi.
O encontro foi aberto pelo diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da FAPESP, Carlos Américo Pacheco, que falou sobre os vários instrumentos da agenda de inovação da agência de fomento e destacou o Programa Centelha como uma das atividades consideradas mais importantes para estimular o tema dentro de pequenas empresas.
Na sequência, antes da apresentação dos projetos, Tomás Bruginski de Paula, gerente de relações institucionais na FAPESP, palestrou sobre o planejamento para a captação de recursos e investimentos em startups – tópico considerado fundamental para garantir a sustentabilidade da empresa no longo prazo.
Durante sua fala, o gestor traçou um panorama da atuação da FAPESP no fomento da inovação, desde a movimentação mais recente para se tornar investidor minoritário em fundos de venture capital a um conjunto de programas de aceleração e de internacionalização, além do desenvolvimento de 27 centros de pesquisa em engenharia em parceria com empresas.
Bruginski de Paula destacou ainda que a legislação brasileira ficou, nos últimos anos, mais em linha com a realidade internacional e favorável a novas possibilidades, como a de contratações mais flexíveis e aporte de recursos por parte de universidades e órgãos públicos, e falou sobre as vantagens com as quais as pequenas empresas do ecossistema de São Paulo contam em relação a outras regiões do país: “O Estado tem o melhor potencial possível de apoio de financiamentos e é o único lugar da América Latina que aparece no último ranking de competitividade de hubs internacionais e de inovação”.
Marcelo Camargo, superintendente da área de pesquisa aplicada e desenvolvimento tecnológico da Finep, reforçou os três principais pilares das startups inovadoras de sucesso.
“Essas empresas nascem com a cultura de inovação, ou seja, com a visão clara da necessidade de ter um plano de inovação às vezes mais importante do que o próprio business plan [plano de negócios]. É absolutamente obrigatória uma estrutura de capital para patrocinar essas ideias de inovação e é preciso estar antenado às cadeias globais internacionais”, avaliou.
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