Centros de Pesquisa em Inteligência Artificial pretendem impulsionar aplicações da tecnologia no país
08 de outubro de 2024Elton Alisson | Agência FAPESP – Dez Centros de Pesquisa Aplicada em Inteligência Artificial constituídos pela FAPESP em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) têm a missão de impulsionar as aplicações da nova tecnologia no país, em diversos setores.
Localizadas em diferentes regiões do Brasil, as unidades desenvolvem pesquisas científicas, tecnológicas e de inovação orientadas à resolução de problemas que possam ser resolvidos por meio de inteligência artificial em áreas como saúde, agricultura, indústria e cidades inteligentes.
A parceria da FAPESP com o MCTI e o CGI.br tem origem num acordo, assinado em 2013, que possibilitou a utilização de recursos remanescentes do período em que a Fundação gerenciou atividades de registro de domínio e alocação de endereços IP para projetos de pesquisa que contribuíssem para o desenvolvimento de tecnologias digitais no Brasil.
Os dez centros já implantados reúnem 95 pesquisadores principais e 739 associados, vinculados a universidades e instituições de pesquisa, além de parceiros privados e órgãos de governo.
Ações coordenadas
A fim de coordenar ações, representantes dos dez novos centros participaram de reuniões de trabalho na FAPESP nos dias 1 e 2 de outubro.
“Essa é a maior iniciativa relacionada à inteligência artificial em execução no país. Por meio de dois grandes editais, foram selecionados esses dez centros avançados em tecnologias digitais e inteligência artificial cujo valor total investido é da ordem de R$ 100 milhões, com contrapartida equivalente de empresas”, disse Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, na abertura do encontro.
A FAPESP, o MCTI e o CGI.br disponibilizarão anualmente R$ 1 milhão para cada um dos novos centros por um período de até dez anos. Valor idêntico será aportado pelas empresas parceiras, totalizando R$ 20 milhões por unidade de pesquisa.
“Esses Centros de Pesquisa em Inteligência Artificial são, de certa forma, o embrião de políticas que estão sendo desenvolvidas em nível nacional, como o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial [PBIA]”, avaliou Renata Vicentini Mielli, coordenadora do CGI.br.
Apresentado durante a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que aconteceu entre o final de julho e início de agosto em Brasília, o PBIA prevê investimentos da ordem de R$ 23 bilhões nos próximos quatro anos.
A proposta está dividida em cinco eixos estruturantes: infraestrutura e desenvolvimento; difusão, formação e capacitação; IA para melhoria dos serviços públicos; para inovação empresarial; e apoio ao processo regulatório e de governança.
“Foi feito um esforço grande no plano para identificar as fontes de recursos para financiar as ações, mas que estão muito concentradas na parte que é factível, que são os recursos públicos, como o FNDCT [Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico]. Mas em qualquer lugar do mundo o grosso do investimento em inteligência artificial é privado”, ponderou Carlos Américo Pacheco, diretor do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da FAPESP.
“No caso dos Centros de Pesquisa em Inteligência Artificial, todos eles têm parceiros privados, que contribuem com a contrapartida dos recursos públicos. Mas é preciso um esforço adicional para promover maior participação e investimento de empresas no Brasil nessa área”, avaliou.
Integração com indústrias
Um dos centros que podem contribuir nesse sentido é o Hub de Tecnologias Digitais (H4I), constituído em parceria com o Senai Cimatec, em Salvador, na Bahia, apontou o dirigente da FAPESP.
Integrado por universidades, empresas como a HP e a Intel e federações de indústrias, o objetivo do centro é desenvolver uma plataforma digital, aberta e multiusuário de ciência de dados e IA para o desenvolvimento, alavancagem e modernização da indústria brasileira, aproveitando a capilaridade do Senai em nível nacional.
A ideia é que a plataforma disponibilize para micro, pequenas e médias empresas ferramentas capazes de acelerar seus processos de inovação e de manufatura inteligente.
“Apesar de as atividades do centro iniciarem agora, já temos duas ferramentas que serão adicionadas à plataforma”, afirmou Davidson Martins Moreira, coordenador do H4I.
A primeira ferramenta, batizada WebGRIPP, é voltada para a otimização e resolução de problemas inversos – um conjunto de problemas matemáticos cujo objetivo é determinar a causa de um fenômeno particular. E a segunda, nomeada WebDomus, é aplicada na regulamentação de eficiência energética em edificações, conforto térmico e simulações de poluição em ambientes fechados. “Essas ferramentas já podem ser adicionadas à plataforma”, disse Moreira.
Outra iniciativa direcionada para os desafios da indústria é o Centro de Pesquisa Aplicada em Inteligência Artificial para a Evolução das Indústrias para o Padrão 4.0.
Um dos objetivos do centro, sediado no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), no campus da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista, e com participação da Bosch, Braskem, Siemens, Klabin e Stellantis, será construir coletivamente uma plataforma de conhecimento em IA de modo a promover o aumento da produtividade e competitividade de empresas brasileiras.
As linhas de pesquisa do centro serão integradas aos problemas que impactam a competitividade da indústria brasileira, como monitoramento e controle em tempo real, sistemas autônomos de robótica e máquinas-ferramentas e interoperabilidade e controle de cadeias de produção, entre outros.
“A ideia é desenvolver a plataforma com um conjunto de pessoas para trabalhar com questões relacionadas à inteligência artificial desde o chão de fábrica até alto nível”, explicou Jefferson de Oliveira Gomes, coordenador do projeto.
Qualificação de recursos humanos
Um dos principais desafios para promover aplicações da inteligência artificial em larga escala no Brasil, a exemplo de outros países, é a qualificação e requalificação de recursos humanos, apontaram os participantes do encontro.
Esse problema tem sido observado até mesmo no meio acadêmico, afirmou Fabio Gagliardi Cozman, coordenador do Centro de Inteligência Artificial (C4AI), o primeiro centro de pesquisa aplicada na área lançado pela Fundação e a IBM, em 2020, no âmbito do programa FAPESP Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE).
“Talvez a maior dificuldade que tivemos ao longo desses anos foi a falta de gente no mercado acadêmico”, disse Cozman.
A fim de promover o interesse pelo tema, os pesquisadores do C4AI ligados à área de difusão do conhecimento têm promovido seminários, cursos e aulas on-line. Um dos cursos a distância teve a participação de mais de 100 mil inscritos.
Outros centros, como o de Inovação em Inteligência Artificial para a Saúde, sediado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, pretendem desenvolver plataformas para letramento digital em inteligência artificial para a saúde voltada para profissionais de saúde, estudantes, docente e idosos, por exemplo.
“Precisamos de instrumentos de formação de recursos humanos em inteligência artificial que sejam muito mais diferenciados do que os que estamos acostumados a usar”, avaliou Pacheco.
imagem de geralt em Pixabay.
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