Exame analisa a expressão de 11 microRNAs e utiliza algoritmos para classificar o nódulo indeterminado em “negativo” ou “positivo” (imagem: Wikimedia Commons)

Inteligência artificial a serviço de diagnóstico de câncer

04 de setembro de 2018

Claudia Izique  |  Pesquisa para Inovação – A Onkos Diagnósticos Moleculares – startup instalada no Supera Parque de Inovação em Tecnologia de Ribeirão Preto – oferece, desde março, um novo exame para a classificação de nódulos de tireoide indeterminados. O teste foi desenvolvido em parceria com o Hospital de Câncer de Barretos e apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).

A avaliação de nódulos da tireoide – enfermidade que acomete cerca de 60% da população brasileira – é realizada, habitualmente, por meio da análise de material coletado por um procedimento conhecido como PAAF, sigla de punção aspirativa por agulha fina. “Em cerca de 75% dos casos o resultado é negativo para o câncer”, afirma o biólogo Marcos Tadeu dos Santos, fundador da Onkos.

Quando a malignidade é identificada, a recomendação é a cirurgia de retirada da glândula tireoide. Ocorre que em 20% a 30% dos exames, ele ressalva, o resultado não é conclusivo e, por precaução, o paciente acaba sendo submetido a uma cirurgia que pode ser desnecessária. “O nosso teste é indicado exatamente para pacientes com nódulos de tireoide indeterminados”, explica.

O exame desenvolvido pela Onkos, denominado mir-THYpe, analisa a expressão de 11 microRNAs – reguladores da expressão gênica – e, utilizando algoritmos de inteligência artificial, classifica o nódulo indeterminado em “negativo” ou “positivo”. “O valor preditivo negativo desse exame é de 96%”, diz Santos, referindo-se aos casos em que a hipótese de câncer é descartada. Já o valor preditivo positivo – que confirma a malignidade – é de 76%.

O teste realizado pela Onkos não exige que o paciente se submeta a uma nova PAAF: utiliza exatamente a mesma lâmina em que foi coletado o material do primeiro exame. “Além de poupar o paciente de um procedimento dolorido e estressante, economiza recursos para a fonte pagadora”, sublinha Santos.

Por não exigir uma nova coleta de material a empresa consegue atender pacientes em todo o país: desenvolveu um kit de transporte de amostra que possibilita o recebimento de material enviado de qualquer lugar. “O paciente solicita o kit de transporte, envia a amostra para análise na Onkos, em Ribeirão Preto, e recebe o resultado do diagnóstico pela internet”, resume Santos.

Essa técnica, conhecida como Gene Expression Profiling, foi utilizada entre março de 2016 e abril de 2017, período em que a empresa contou com o apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP para a Fase 1, de teste de conceito. “Fomos muito além do teste de conceito: avançamos 70% no processo de desenvolvimento e validação e, ao final, concluímos os demais procedimentos por conta própria”, conta Santos.

Na avaliação do empresário, o mir-THYpe hoje tem potencial para reduzir até 81% das cirurgias desnecessárias de tireoide e economizar até 66% do gasto com estes pacientes. “Ganha o paciente, ganha o médico e ganha a fonte pagadora”, ressalta Santos.

Com o mir-THYpe no mercado, a Onkos conta agora com apoio do PIPE Fase 2  para ampliar o número e a diversidade das amostras utilizadas na validação desse serviço diagnóstico. Para tanto, realizará um estudo multicêntrico, que conta com a participação de diversas universidades, laboratórios e hospitais brasileiros e latino-americanos.

“Pretendemos incrementar o poder de discriminação entre amostras benignas e malignas de nosso classificador molecular de forma a obter resultados mais sensíveis e específicos, com foco na melhoria do Valor Preditivo Negativo e inclusão de mutações específicas”, explica Santos. O projeto estará concluído em 2020.

Marcadores moleculares

O domínio da técnica motivou que a Onkos buscasse o uso de marcadores moleculares na identificação de variantes agressivas também em pacientes com câncer de próstata, com novo apoio do PIPE para a Fase 1 . “A ideia aqui é similar: diminuir tratamentos e procedimentos desnecessários em câncer de próstata com uma ferramenta mais objetiva”, diz Santos.

O objetivo, ele explica, é desenvolver um exame que permita prever os riscos de uma recidiva bioquímica e a progressão de um tumor para metástases em pacientes que realizaram a prostatectomia radical. O projeto de pesquisa é realizado em parceria com o Hospital de Câncer de Barretos.

“Já desenvolvemos os marcadores e estamos testando alguns algoritmos para poder validar o exame. Atualmente, 65% dos pacientes classificados como de alto risco pelos critérios clínicos são reclassificados como de baixo risco pelo nosso exame, com um valor preditivo de 95%”, ele afirma.

Com dois projetos de pesquisa em curso, a empresa foi premiada na 9ª edição do Prêmio Octávio Frias de Oliveira, na categoria Inovação Tecnológica em Oncologia, por um terceiro estudo: o desenvolvimento de um exame que também utiliza inteligência artificial para identificar a origem primária de tumores metastáticos.

“Em 3% a 5% dos casos de câncer, as ferramentas atuais não conseguem identificar a origem primária do tumor. E essa informação é vital para definição do melhor tratamento”, afirma Santos. “Analisamos 95 genes e comparamos com um banco de dados com quase 4.500 amostras de 25 tipos de câncer para sugerir a provável origem primária desses tumores. Nossa acurácia é de 84%.”

A Onkos conta hoje com quatro pessoas – “três são bolsistas, todos com mestrado ou doutorado”, destaca Santos. E está pronta para crescer. “Temos uma demanda reprimida, precisamos de capital para expandir”, ele diz. A empresa é bem avaliada pelo mercado: posicionou-se em 5º lugar entre as health cares de todo o país na edição 2018 do Ranking 100 Open Startups, anunciado em julho. No momento, a empresa “conversa” com dois fundos de investimentos.

Onkos Diagnósticos Moleculares
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