
Dispositivo vestível ajuda cegos a detectar obstáculos
15 de abril de 2025Maria Fernanda Ziegler | Pesquisa para Inovação – Pesquisadores das universidades Estadual Paulista (Unesp) e Federal do Espírito Santo (Ufes) desenvolveram um dispositivo vestível para auxiliar na locomoção de pessoas com deficiência visual. A tecnologia conta com sinalizadores táteis capazes de alertar para a presença de obstáculos, garantindo aos usuários maior autonomia e segurança nas caminhadas.
O sistema, integrado a uma mochila, é composto por uma câmera com sensor RGB de profundidade – que captura imagens de forma muito semelhante à experiência visual humana – e uma unidade de processamento de imagens com diferentes componentes, entre eles um processador Jetson Nano. O minicomputador é indicado para tarefas como classificação de imagens, detecção de objetos, segmentação e processamento de fala, por exemplo. Os detalhes da pesquisa foram descritos na revista Disability and Rehabilitation: Assistive Technology.
“Os componentes são armazenados na mochila, que pode ser utilizada também para o transporte de pertences do usuário. Os fios passam por dentro da mochila e das alças, que vibram conforme o usuário se aproxima de um obstáculo. Se ele estiver à esquerda, vibra o lado esquerdo. Se estiver à direita, vibra o direito. E, se estiver à frente, vibram os dois”, conta Aline Darc Piculo dos Santos, atualmente professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e primeira autora do artigo.
O dispositivo foi desenvolvido durante o doutorado de Santos, realizado na Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (Faac) da Unesp, em Bauru. O trabalho contou com apoio da FAPESP, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes).
A pesquisadora relata ter optado pelo uso de um feedback tátil em vez de um aviso sonoro pelo fato de a informação auditiva ter um peso importante no processo de orientação e mobilidade de pessoas com deficiência visual.
“Nosso objetivo principal foi, a partir da tecnologia vestível, ampliar a detecção de obstáculos, já que com a bengala só é possível mapear o que está abaixo da linha da cintura. Assim, a ideia não é substituir a bengala – um dispositivo com o qual o usuário já está acostumado e dificilmente deixará de usar –, mas que ela seja complementar à mochila”, explica.
O desenvolvimento do protótipo, denominado NavWear, envolveu uma equipe interdisciplinar formada por designers e engenheiros eletricistas e levou em consideração não só a funcionalidade, mas também aspectos como conforto, interação do dispositivo com os usuários e facilidade de uso.
“Além de uma revisão grande de estudos sobre mobilidade de pessoas com deficiência visual e da pesquisa sobre tecnologias assistivas disponíveis para esse público, também firmamos parceria com uma instituição de cegos para entender as necessidades dos usuários. A maioria dos dispositivos desse tipo aborda apenas os aspectos funcionais. Poucos são os estudos que tratam dos aspectos relacionados à interação entre usuário e dispositivo, o que pode influenciar a aceitação e a satisfação com o produto”, diz a pesquisadora.
Estudo preliminar
Para chegar ao modelo descrito no artigo, os pesquisadores realizaram um estudo com 11 indivíduos adultos com deficiência visual e um profissional da área da saúde, especializado em orientação e mobilidade.
“Nesse estudo preliminar, as pessoas com deficiência visual expressaram um alto nível de preocupação em relação à sua segurança em ambientes externos e desconhecidos, além da dificuldade em identificar obstáculos não detectados pela bengala comum”, conta Santos.
A pesquisadora conta que o protótipo foi avaliado sob duas perspectivas: usabilidade do dispositivo e percepção de observadores sobre o usuário. A primeira avaliação foi realizada em um ambiente controlado, que permitia a simulação de tarefas como caminhadas de olhos vendados. “Nessa etapa de testes, foi possível observar que o uso combinado das tecnologias resultou em menos colisões. Os participantes também relataram sentir mais segurança e menor dificuldade em realizar o percurso”, ressalta.
Segundo a pesquisadora, uma limitação do estudo foi não ter conseguido testar o protótipo em indivíduos cegos. “Como ele foi desenvolvido durante o período de isolamento social da pandemia de COVID-19, houve essa limitação. Embora os resultados não possam ser generalizados para usuários com deficiência visual, visto que eles podem ter uma interação diferente, eles são promissores e destacam o potencial do dispositivo para uso em ambientes externos”, conta.
O artigo NavWear: design and evaluation of a wearable device for obstacle detection for blind and visually impaired people pode ser lido em: www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/17483107.2025.2477681.
Notícias
- FAPESP lança site com indicadores de ciência, tecnologia e inovação do Estado de São Paulo
- Caixa e Artemisia anunciam programa de inovação aberta
- CTI Renato Archer dá início às operações do Parque Tecnológico
- Armadilha inteligente pode ajudar a monitorar e controlar a circulação do mosquito da dengue
Agenda
Chamadas
-
Programa de Pesquisa em Políticas Públicas
Prazo (segunda fase): 18/04 -
Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCD)
Prazo: 22/04 -
Chamada para Programa de Mobilidade CONFAP / Itália
Prazo: 25/04 -
Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID)
Prazo: 29/04 -
Programa FAPESP para o Atlântico Sul e Antártica
Prazo: 30/04 -
Infraestrutura de Funcionamento de Biotérios de Pequenos Animais e da Biossegurança de estruturas de pesquisa
Prazo: 30/04 -
FAPESP - Belmont Forum: Driving Urban Transitions
Prazo: 30/04 -
Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) – 19ª Chamada
Prazo: 09/05 -
FAPESP / M-ERA.NET 2025 – Ciência de Materiais e Engenharia
Prazo: 13/05 -
Chamada FAPESP Primeiros Projetos
Prazo: 15/05 -
Chamada Auxílio à Pesquisa Projeto Inicial (Pi)
Prazo: 15/05 -
FAPESP e Max Planck Society: Jovens Pesquisadores
Prazo: 30/05 -
FAPESP e Max Planck Society: Auxílio à Pesquisa Regular
Prazo: 30/05 -
Chamada Internacional para Jovens Pesquisadores
Prazo: 03/06 -
Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE)
Fluxo contínuo -
PIPE-FAPESP Transferência de Conhecimento (PIPE-TC)
Fluxo contínuo