Plataforma desenvolvida por startup apoiada pelo PIPE-FAPESP permite que as incorporadoras otimizem suas escolhas de terrenos (imagem: divulgação/Arqgen)

Inteligência artificial melhora decisões de projetos de arquitetura

21 de janeiro de 2025

Roseli Andrion | Pesquisa para Inovação – Arquitetos da startup Arqgen desenvolveram uma plataforma que possibilita que as incorporadoras otimizem suas escolhas. Uma das principais funções do sistema é permitir a análise de viabilidade de um projeto.

“É comum que as incorporadoras comprem terrenos sem consultar um arquiteto — geralmente porque têm pressa. Isso é muito arriscado, porque elas não sabem o que de fato pode ser construído naquele local, por exemplo”, diz Alexandre Kuroda, arquiteto e cofundador da Arqgen. Isso pode levar a perdas grandes, já que muitos desses terrenos podem não ser usados imediatamente para construção — e a incorporadora ter de esperar um momento mais oportuno.

Para mudar esse cenário, a solução desenvolvida pelos arquitetos da Arqgen com apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) permite incorporar restrições (urbanísticas, ambientais e de arquitetura, por exemplo) e, em seguida, obter todas as opções de projetos possíveis para aquele espaço. “Isso garante uma margem competitiva grande e mais precisão ao escolher os terrenos a serem comprados.”

Ao fazer as melhores escolhas já na fase inicial do projeto, quando a incorporadora seleciona o terreno para a construção de um novo empreendimento, os passos seguintes são otimizados. Isso ajudou a demonstrar o valor da ferramenta para o mercado.

A primeira versão da solução era instalada localmente. Atualmente, a ferramenta já está disponível de forma virtual e as atualizações ficam automaticamente disponíveis para uso em ambiente de software como serviço (Software As A Service – SAAS).

“Isso trouxe mais escalabilidade, tanto no sentido de mais vendas como na melhoria do atendimento aos nossos clientes”, destaca Kuroda. “Antes, o cliente levava dois ou três meses para instalar cada nova versão. Tudo o que a gente discutia só era visto depois de muito tempo.”

Protagonismo da arquitetura

Segundo Kuroda, o sistema permite trazer o protagonismo estratégico da arquitetura para que ela não seja só operacional. “A pressa e a pressão para construir podem fazer todo o processo ser muito atropelado. Queremos oferecer ao incorporador estratégias de qualidade de projeto de arquitetura para que os imóveis construídos tenham, por exemplo, insolação e vistas adequadas que interajam com o contexto urbano”, explica.

Dessa forma, o incorporador vai poder oferecer ao mercado um produto aprimorado, que não está disponível na arquitetura tradicional — especialmente em projetos grandes, em que não é possível pensar em cada unidade de forma individualizada. “Queremos garantir destaque à arquitetura nos projetos, já que isso adiciona mais valor ao empreendimento e, no futuro, vai garantir que as pessoas sejam mais felizes e vivam melhor.”

A Arqgen tem, ainda, uma solução que pode ser usada para planejamento de interiores e organização de espaços. Isso é feito a partir das informações do imóvel e da escolha do estilo de projeto: a plataforma, então, fornece todas as possibilidades disponíveis para aquelas características. “Além disso, o sistema da Arqgen permite avaliar a eficiência de um projeto — algo que um arquiteto tradicional não consegue fazer. Em um projeto de uma agência bancária, por exemplo, é possível avaliar a distância percorrida pelo cliente para chegar ao caixa e escolher a opção mais adequada.”

Além de oferecer todas as possibilidades de organização arquitetônica, o sistema ainda as classifica de acordo com os critérios definidos pelo próprio usuário. “Assim, ele pode fazer escolhas melhores.”

Dessa forma, a economia vai além da escolha do terreno mais adequado: ela se estende até a quantidade de materiais necessários. “Atuamos na etapa mais fundamental dos projetos: aquela em que as principais decisões são tomadas. A partir dessas definições iniciais, tudo fica mais complexo porque alterações em fases anteriores representam retrabalho e, consequentemente, custo maior”, pontua Kuroda. “Se já estiver em fase de construção, é ainda pior porque alterações implicam demolição do que já está pronto. Essa etapa inicial, então, é a de maior valor, já que inclui as decisões de qualidade de arquitetura.”

Para o futuro, a equipe já pensa no desenvolvimento de soluções que possam incorporar a individualidade de cada proprietário — para que cada um tenha um imóvel mais adequado a seus anseios, mesmo em grandes empreendimentos. “Existe muita tecnologia disponível e ela pode ajudar a incorporar essa característica já na fase inicial do projeto para que seja possível respeitar as particularidades dos futuros usuários daquela arquitetura.”

Além do Brasil

Outra possibilidade para a solução é o planejamento das cidades. São Paulo, por exemplo, com ocupação totalmente desordenada, poderia se beneficiar de um projeto urbano amplo. “Nosso escopo é uma escala menor, mais voltado para as construtoras e as soluções em cada lote, mas certamente é possível atuar no planejamento de cidades.”

Além disso, a startup pensa em internacionalização, já que as restrições urbanas e o modo de atuação das incorporadoras não se limitam ao Brasil. “Ainda há muitas oportunidades no Brasil, mas com certeza podemos oferecer essa solução fora do país de forma personalizada. A ideia é expandir o software para uso mais geral, inclusive para outros países.”

O nome da empresa, curiosamente, é uma junção das palavras “arquitetura” e “generativa” — embora o conceito hoje já tenha se popularizado, a partir do uso da inteligência artificial generativa oferecida por softwares como o ChatGPT, quando a Arqgen foi fundada, em 2020, ele ainda não era muito conhecido. Além disso, o modelo da empresa é muito mais sofisticado do que os robôs de criação de textos e imagens a partir de colagens. “Para a arquitetura, é necessária muita precisão — que não está disponível nesses sistemas”, aponta Kuroda. “Para a gente, uma colagem por semelhança não é suficiente.”